Título: Parasita se mostra mais resistente
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2005, Vida&, p. A32

Uso indiscriminado de um composto em tratamento pode resultar em ineficácia

A edição de ontem da revista médica britânica The Lancet (www.thelancet.com) não traz uma boa notícia para o combate à malária. O uso indiscriminado da artemisinina, composto retirado de uma planta chinesa, no tratamento de doentes provoca resistência do parasita ao remédio, que perde sua eficiência. O problema foi observado com outros compostos, mais antigos, como a cloroquina. Esse é o primeiro alerta feito em relação à artemisinina, que foi indicada pela Organização Mundial da Saúde para terapia em todo o mundo.

A pesquisa foi conduzida por Ronan Jambou e Eric Legranda, do Instituto Pasteur, no Camboja, na Guiana Francesa e no Senegal. Todos os 530 pacientes estudados estavam contaminados por somente um dos quatro tipos de micróbios causadores da malária, o Plasmodium falciparum ¿ no Brasil, o mais difundido é o P. vivax, menos letal, então não se pode afirmar que o tratamento local com o composto seja inócuo.

Segundo Jambou, o aumento da resistência indica a necessidade de aumentar a vigilância e de estimular o tratamento com mais de um composto associado. Além disso, diz ele, o caso é conseqüência do ¿uso descontrolado da monoterapia ou da associação com moléculas ineficazes¿.

Apesar da notícia negativa, o estudo é um de muitos que têm aparecido nos periódicos científicos internacionais com malária como tema. Aumentou a compreensão sobre os mecanismos moleculares que fazem da doença uma das mais mortais do planeta, desde o papel de proteínas na infecção a genes que protegem o mosquito Anopheles, que transmite o plasmódio de pessoa para pessoa, picando um infectado e passando para um são.

Há estudos epidemiológicos e sociais e propostas de vacina: essa, ainda uma promessa. ¿O combate à malária não é fácil, é muito complexo e provoca bastante controvérsia¿, diz a pesquisadora Mary Galinski, professora da Universidade Emory (EUA) e presidente da Fundação Internacional da Malária (leia entrevista abaixo).

A produção científica recente tem duas bases: uma maior conscientização do que é a malária, inclusive nos países ricos (onde está a maioria dos cientistas), e mais dinheiro. ¿A Fundação Bill & Melinda Gates tem atuado de forma significativa no aumento de verbas disponíveis para o estudo da malária e para o teste de novas soluções¿, conta Patrick Duffy, da Universidade de Washington em Seattle. ¿Esperamos que leve a novos conhecimentos.¿