Título: Lula vai pedir ajustes na economia para atravessar o ano eleitoral
Autor: Tânia Monteiro e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer discutir com a equipe econômica ajustes na dosagem da aplicação da política econômica, mas sem mudar o atual modelo. O debate deve ocorrer já no dia 19, na última reunião ministerial do ano - e a intenção é permitir ao governo atravessar o ano eleitoral sem tantos atritos, fazendo ajustes necessários sem alterar a receita macroeconômica adotada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, que participou da reunião, reconhece que há uma grande pressão da sociedade por mais investimentos. "É lógico que os números do PIB não agradaram nem a gregos nem a troianos. É natural, também, que a equipe econômica avalie os últimos resultados - ela é que decidirá se há algum remédio a mais, ou a menos, a ser dado", disse ele, acrescentando que o presidente "fará com a equipe uma radiografia desses resultados. Se necessário, pode realizar ajustes. Mas o que é certo é que não há mudanças na política econômica", avisou Wagner.

Apesar de a queda de 1,2% do PIB no terceiro trimestre ter sido considerada por setores do governo como "um balde de água fria" no discurso presidencial de que o País está vivendo uma fase de bom crescimento, Wagner disse que a expectativa dos participantes da reunião da Junta Orçamentária é que no último trimestre do ano seja registrada uma recuperação do crescimento econômico de 3% do PIB.

"Mesmo que não seja um número com o qual possamos nos maravilhar, o importante é termos continuidade do crescimento", completou.

Na última reunião ministerial, dia 19, o presidente pretende anunciar projetos prioritários e metas de governo necessárias para trabalhar com mais tranqüilidade pela sua reeleição - ainda que ele continue dizendo que não sabe ainda se será candidato. O ministro negou que a liberação de recursos, a partir de agora, seja parte de uma estratégia eleitoral. "O presidente está preocupado apenas com a execução do orçamento", garantiu. "Essa questão de eleição deve ficar para fevereiro." Questionado se Lula iria anunciar a candidatura em fevereiro, disse que este era um desejo dele, Wagner - mas o lançamento pode acontecer também "em março, abril ou maio".

O clima na reunião da Junta Orçamentária, com a presença de Palocci e Dilma Rousseff, da Casa Civil, que vinham se desentendendo, foi considerado "muito bom" por auxiliares do Planalto . "Os dois, inclusive, trocaram beijinhos", confidenciou um interlocutor do presidente.

JUNTA ORÇAMENTÁRIA

O presidente e os ministros da área econômica avaliam que o governo fechará o ano com o empenho completo do orçamento. Segundo dados apresentados pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, 87% do orçamento do ano já foi empenhado. "Eu diria que a gente está numa média razoável. Evidentemente, podemos ter um ou outro ministério em dificuldades", afirmou. Além de dinheiro para emendas e infra-estrutura, o governo terá de reservar verbas para o aumento dos militares e para cumprir a promessa feita aos governadores de repassar cerca de R$ 900 milhões referentes à compensação aos Estados por perdas com a Lei Kandir.

Na reunião de ontem, além do presidente Lula, estavam presentes os ministros Dilma Roussef (Casa Civil), Jaques Wagner (Relações Institucionais), Paulo Bernardo (Planejamento) e Antonio Palocci (Fazenda).