Título: Bem-querer de resultados
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Nacional, p. A6

PFL gosta mais de Alckmin, mas acha mais vantagem fazer negócio com Serra Preferir, preferir mesmo, o PFL prefere a companhia do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Mas, como negócio eleitoral, o partido acha que a aposta no prefeito José Serra é potencialmente mais rentável.

Por dois simples e pragmáticos motivos: a situação de Serra nas pesquisas - hoje, sem campanha nem candidatura posta, o único capaz de bater o presidente Luiz Inácio da Silva - e a possibilidade de o PFL passar dois anos à frente do terceiro orçamento da República; com a renúncia de Serra, a Prefeitura de São Paulo iria para as mãos do vice, o pefelista Gilberto Kassab.

Para um partido bem posto no Nordeste e no Sul, mas fraco no Sudeste, notadamente em São Paulo, seria uma chance imperdível. É claro que este aspecto da questão não é levado em conta assim de maneira assumida.

Nas conversas menos reservadas, o PFL cita apenas a condição eleitoral de José Serra como argumento para defender o apoio agora tornado quase oficial pelo anúncio do prefeito do Rio, César Maia, de abandonar aquele plano de concorrer à Presidência da República e juntar-se numa aliança ao PSDB, preferencialmente em torno de Serra.

As vacilações expostas por pefelistas de peso - uns ainda externando tendência para ficar com Alckmin, outros mantendo a hipótese da candidatura própria no horizonte - fazem parte de um jogo de cena típico desse período preliminar no tocante a definições.

Mas, internamente, as avaliações de fato favorecem uma adesão ao prefeito de São Paulo. Como ninguém assume a cobiça pela Prefeitura, o quadro é analisado sob a ótica das chances eleitorais sustentadas nos números das pesquisas.

As análises não deixam de levar em conta o fato de que Alckmin, menos conhecido nacionalmente, teria também uma considerável possibilidade de crescer.

Mas isso põe o assunto no terreno das hipóteses. No concreto, os pefelistas acham que o eleitor que nesta altura já escolheu o prefeito de São Paulo, seja por seus atributos, seja porque o escolheram para fazer o papel do anti-Lula, dificilmente transferiria seu voto.

Talvez para um candidato de partido diferente que viesse a empolgar na campanha, mas não mudar de um tucano para outro. Por esta linha de raciocínio, seria arriscado apostar em alguém cujo nome ainda estivesse na dependência de uma construção de imagem e conhecimento junto ao eleitorado.

Daí, na visão do PFL, Serra representar o certo e Alckmin o duvidoso.

Obviamente, toda a discussão dentro do partido de Jorge Bornhausen é condicionada à decisão do PSDB, onde, a olho nu, ainda não é possível enxergar uma tendência forte para um ou para outro.

Ambos os pré-candidatos têm defensores e detratores internos e o cabo eleitoral principal, Fernando Henrique Cardoso, ainda não se pronunciou - nem o fará antes do início do próximo ano - clara e oficialmente sobre o assunto.

Por enquanto, os tucanos cuidam da elaboração da proposta de governo, cuja redação é coordenada por Eduardo Graeff, embora José Serra e Geraldo Alckmin já estejam em plena atividade para viabilizar seus nomes.

O governador faz isso com mais desenvoltura porque não pretende perder o terreno que acreditava garantido por conta das dificuldades políticas de Serra para deixar a Prefeitura. Até recentemente, antes de o prefeito dar sinais claros de que está na disputa, Alckmin agia com a calma de candidato natural; mudou, passando a assumir atitude mais propositiva.

Quanto ao gesto do prefeito César Maia, ele dá impulso ao nome de José Serra, pesa inclusive porque o prefeito é bem próximo ao grupo de Antonio Carlos Magalhães (o mais resistente a Serra), mas não determina a escolha do candidato.

A operação é delicada e, a despeito de toda consideração e apreço que o PSDB possa ter por seu companheiro de governo Fernando Henrique durante oito anos, a decisão obedecerá primeiro às circunstâncias internas e só depois levará em conta as conveniências externas.

Par ideal

A tendência do PFL para apoiar José Serra não é nova e já é discutida sob o prisma da escolha do nome do candidato a vice para formar com ele a chapa presidencial.

O líder do partido no Senado, José Agripino, é considerado o par ideal.

Mais assertivo e menos comedido que Marco Maciel, tido como modelo de vice nos oito anos de FH, seria, na avaliação do PFL, um perfil mais adequado para o tipo de personalidade - menos maleável, digamos assim - de Serra.

Pequeno detalhe

A reunião da Executiva Nacional do PT no fim de semana, com presença de José Genoino, moção de apoio aos petistas acusados na Câmara e racha animado entre Marta Suplicy e Aloizio Mercadante pela candidatura ao governo de São Paulo poderia até provocar nos otimistas a impressão de que voltou tudo ao normal, que os últimos seis meses foram só um sonho ruim.

Não fosse por um pequeno e crucial detalhe: o PT, sempre na ofensiva, agora vai à eleição na defensiva, lutando nas cordas.