Título: 'Não tem um alfinete por fora'
Autor: Ana Paula Scinocca e Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Nacional, p. A6

O vice-presidente da República, José Alencar (PRB), disse ontem em Curitiba que a Coteminas, empresa por ele fundada em 1975 e da qual é controlador, "não tem um alfinete por fora, não tem caixa 2, não tem venda sem nota, não tem compra sem nota". Ele respondeu às denúncias de que uma dívida do PT teria sido paga à empresa possivelmente por dinheiro de caixa 2, visto não estar contabilizado no partido. "Talvez seja esse o defeito, porque, se tivesse (irregularidades), não estava passando por isso", ressaltou. "Porque a empresa que tem coisa por fora, se o freguês pagou em dinheiro, aquele dinheiro não precisa ir para o banco, pode ficar no bolso do dono, sonegar imposto. Mas nós não temos isso." Alencar, que esteve em Curitiba para palestra sobre a governança da política econômica, usou várias vezes a palavra "nós" para se referir à Coteminas, embora depois corrigisse dizendo que o melhor seria usar a terceira pessoa, já que está afastado há três anos.

"Mas o meu filho é o presidente e é o responsável, por isso também sou responsável", acentuou. Alencar leu nota que a empresa distribuiu ontem explicando a venda de 2,75 milhões de camisetas ao PT e formas de pagamento. Em maio foi feito pagamento de R$ 1 milhão de parcela de dívida que hoje estaria acima de R$ 12 milhões. "A empresa recebeu, depositou no Bradesco, deu recibo e levou a crédito do cliente, que é o PT. Isso é tudo", salientou. "Daí para frente é com o partido."

O vice-presidente demonstrou abatimento com a notícia de caixa 2. A assessores, Alencar reclamou que o PT deixou a Coteminas em situação difícil, na condição de vilã da história. Alencar disse que ao chegar em Curitiba recebeu ligação do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini. "Alencar, estou triste com isso", lhe teria dito Berzoini.

O presidente da Coteminas e filho do vice-presidente da República José Alencar, Josué Gomes da Silva, reiterou ontem que não sabe a origem dos recursos pagos pelo PT. "O dinheiro foi pago pelo PT e como vou colocar sob suspeita os recursos vindos do partido?", disse.

À tarde, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, disse que era "precipitado" avaliar o pagamento. "É preciso termos elementos e provas para qualquer avaliação, prefiro esperar", disse.