Título: PF vai intimar filho de Alencar a explicar depósito
Autor: Ana Paula Scinocca e Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Nacional, p. A6

A Polícia Federal vai intimar para depor o empresário Josué Gomes da Silva, filho do vice-presidente José Alencar e principal executivo da Coteminas. A empresa recebeu um depósito de R$ 1 milhão feito pelo PT, em maio deste ano, com recursos não registrados na contabilidade do partido. A PF entrou ontem nas investigações e requisitou da Receita Federal e do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) os registros da operação. O próximo passo será realizar uma perícia nos documentos contábeis do PT e da Coteminas, para verificar como o dinheiro está lançado nas duas instituições. De acordo com a PF, todavia, nem José Alencar nem a Coteminas estão sendo investigados. As diligências se destinam a investigar a legalidade desta operação específica. A suspeita é que o dinheiro não tenha vindo do chamado valerioduto, mas de outra fonte de abastecimento do caixa 2 do PT.

"É uma questão que precisa ser investigada", disse o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, sobre o depósito suspeito, depois de participar de debate sobre o Poder Judiciário, em São Paulo. "Isso é um lugar-comum, mas é inevitável (que a apuração seja realizada)", afirmou o ministro, acrescentando que tomou conhecimento do assunto pelos jornais.

Segundo ele, a informação de que R$ 1 milhão foi depositado pelo PT na conta da Coteminas revela que os instrumentos do Estado estão funcionando, uma vez que o depósito foi encontrado e comunicado ao Ministério Público e à CPI dos Correios pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras.

Em nota, o PT reiterou ontem que não há registro formal de nenhum pagamento à Coteminas. "Não reconhecemos essa suposta transação", disse o secretário de Finanças do partido, Paulo Ferreira.

Questionado se necessariamente se tratava de caixa 2, Ferreira não quis responder. Declarou apenas que vai procurar a direção anterior (inclusive o ex-tesoureiro Delúbio Soares) para tentar "esclarecer os fatos". "O que temos registrado é uma dívida de R$ 12 milhões e vamos fazer uma proposta de pagamento à Coteminas tão logo a gente saia do aperto", afirmou.

A nota explica que a dívida tem origem no fornecimento de camisetas para a campanha de 2004. E nega que a funcionária do PT Solange Oliveira tenha tido participação no "suposto pagamento": "Ela não tem conhecimento da referida operação e tampouco conhece qualquer representante da empresa."