Título: Fundos perderam R$ 700 milhões em 5 anos, revela CPI
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Nacional, p. A7

Um total de mais de R$ 700 milhões foi sangrado dos principais fundos de pensão estatais do País nos últimos 5 anos, segundo relatório da sub-relatoria de Fundos de Pensão da CPI dos Correios, a cargo do deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). Ao analisar os dados da quebra do sigilo dos fundos, entre os anos de 2000 a 2005, os técnicos da CPI descobriram que o rombo maior se deu nos anos de 2003 e 2004, principalmente de agosto a outubro de 2003, caindo bruscamente no ano de 2005. "Resta agora saber se isso coincide com os momentos decisivos de votações no Congresso de interesse do governo Lula", ressalvou um dos técnicos. A CPI passou a investigar os fundos depois de descobrir que o escândalo do mensalão contou com a participação de corretoras, como a Bônus Banval. Para chegar a estes números, os técnicos da CPI se debruçaram sobre operações com derivativos, feitas por fundos de pensão que tiveram o sigilo quebrado.

Foi com base nos dados dos sigilos bancários da Funcef (dos funcionários da Caixa Econômica Federal), Previ (do Banco do Brasil), Serpros (do Serpro), Nucleos (da Nuclebrás), Prece (da Cedae, do Rio) e Centrus (do Banco Central) que os técnicos chegaram à derrama de R$ 700 milhões, que deve constar do relatório parcial.

Além da Bônus Banval, descobriu-se que na outra ponta da ciranda, aquela que suprimia os bons resultados financeiros dos fundos, estavam as corretoras Quantia, Euro, Plane, Laeta e Novo Invest. Elas operavam na BMF no mercado de derivativos com títulos públicos e papéis como NTN e LFT. O resultado positivo da compra de um título desses nunca era repassado, ao final da ciranda, para os fundos de pensão.

Na conclusão dos técnicos da CPI, sempre uma corretora acabava como a principal beneficiária da transação realizada. "Quando dava uma boa margem de lucro nessas compras, na outra ponta sempre estava uma corretora e nunca o fundo de pensão", disse um dos técnicos. "Mas, se a margem era ruim, o fundo de pensão arcava com a operação."

Existe apenas um caso em que essa ciranda não se repete e isso tem intrigado os técnicos da CPI. Na relação entre a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, com a BB-DTVM, empresa do banco encarregada da compra e venda de títulos, a ciranda ocorre de forma inversa. O BB perde na maioria das vezes, gerando resultados positivos para a Previ. Uma outra surpresa foi a inexpressiva participação da Bônus Banval no esquema das cirandas.

RAIO X

Durante a investigação, os técnicos descobriram que dois outros grandes bancos também fizeram operações com o mesmo padrão. Mas decidiram não colocá-los no relatório. "As operações são atípicas, mas ainda é preciso checar quem está do outro lado", ponderou o técnico. No texto não constarão as transações com RDB e CDB, assim como as operações imobiliárias. Isso só será feito em uma segunda etapa.

Com o raio X dessas transações, os técnicos esperam esquadrinhar de que forma os bancos Rural e BMG operaram para o empresário Marcos Valério de Souza.

Até a noite de ontem, o texto final não tinha sido aprovado pelo deputado ACM Neto.