Título: Indefinição deixa partido com nervos à flor da pele
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Nacional, p. A8

Os astros não ajudaram o PSDB na medida em que os tucanos esperavam - a menos de quatro meses da decisão, não há indicativos claros sobre quem será o candidato mais adequado para enfrentar o presidente Lula em 2006. Essa falta de clareza do destino está abalando os nervos do tucanato paulista: contra a sua vontade e o seu estilo, o partido vai ter de fazer sua escolha sem haver critérios claros no ar. À falta desses critérios para direcionar a escolha, os tucanos começam a acalentar soluções artificiais, como a mudança da duração do mandato presidencial e o fim da reeleição. Pela idéia, inventada por José Serra, o presidente eleito em 2010 teria mandato de 5 anos e não poderia mais concorrer à reeleição. Os líderes do partido no Senado, Arthur Virgílio, e na Câmara, Alberto Goldman, admitem que essa idéia pode ser a chave do paraíso.

Serra lançou a tese para acarinhar o governador Aécio Neves, que está de olho na sucessão de 2010, e aceitaria uma solução em que seu colega de partido eventualmente eleito em 2006 não fosse candidato à reeleição daqui a 5 anos. Pela mesma razão, o projeto tem chance de ganhar a simpatia de Lula e do PT, que teriam a mesma garantia. Se Lula perder ano que vem, enfrentaria um candidato novo em 2010.

Mas se o projeto tem certa lógica política e eleitoral, carece de lógica matemática. Ele teria de ser aprovado em 2006 e não valeria para o presidente eleito em outubro: se o eleito for Lula, tudo bem, porque o petista não concorreria a um novo mandato em 2010. Mas se o vencedor for Geraldo Alckmin ou Serra, haverá um impasse: o mandato seria só de 4 anos, sem direito à reeleição em 2010?

Quando se preocupam, os tucanos se recordam do cenário de 2002, quando a candidatura de Serra foi decidida contra segmentos importantes do partido, que depois abandonaram o candidato a sua própria sorte. "Quem for indicado candidato vai precisar muito do outro", advertiu um cardeal do partido, mostrando ansiedade por uma escolha sem traumas.

A decepção foi ainda maior porque sexta-feira à noite Alckmin e Serra conversaram sobre a candidatura e, segundo amigos dos dois, "ambos gostaram muito da conversa". A paz de sexta-feira durou menos de dois dias.