Título: Apoio de Maia a Serra irrita Alckmin e o PSDB
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Nacional, p. A8

O apoio explícito do prefeito do Rio, Cesar Maia, pré-indicado candidato à presidência pelo PFL, ao prefeito José Serra complicou a disputa que vinha sendo travada pelo governador Geraldo Alckmin e Serra pela candidatura tucana em 2006. As declarações de Maia causaram irritação e foram criticadas por alckmistas e serristas; a frase mais ouvida ontem entre tucanos paulistas e de outros Estados foi que "o PSDB escolhe o seu candidato". Alckmin foi surpreendido pelas declarações num dia em que tinha um compromisso com o prefeito. "Serra tem dito que não é candidato. Mas eu não posso falar por ele. Perguntem a ele", disse, ao ser indagado pelos jornalistas. Escaldado pela repercussão, Serra se acautelou: "Não tenho expectativas de ser candidato", afirmou.

De longe, o governador Aécio Neves (MG) se mostrou incomodado: "Fica claro que o prefeito César Maia sinaliza que o PFL apoiará uma candidatura do PSDB, mas ele sabe que caberá ao PSDB escolher seu candidato". O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman, próximo a Serra, concordou: "Escolher o candidato é uma decisão interna do partido".

Numa cerimônia de assinatura de convênios, Alckmin e Serra sentaram-se lado a lado, mas trocaram poucas palavras. Serra tentou puxar papo, mas o governador não se interessou. Serra tentou com elogios: "Alckmin e eu somos servidores do povo. Tem partido que chega ao poder para se servir do povo, mas nós não fazemos isso." Nem assim Alckmin se comoveu, nem comentou a opinião de Maia, para quem Serra estaria mais preparado para o embate presidencial. "Não vou entrar nessa discussão", afirmou.

A preocupação maior dos tucanos paulistas era abafar o desconforto causado pelas declarações de Maia. Os alckmistas se irritaram mais porque desconfiavam de que as declarações de Maia - amigo de Serra desde os tempos de exilados, no Chile - teriam sido combinadas com o prefeito paulistano. O fato é que o afunilamento da escolha do candidato tucano não está sendo tão simples como o partido pretendia: a menos de quatro meses do prazo decisivo, não há nenhum favoritismo à vista.

Serra tem melhor desempenho nas pesquisas de opinião e melhor articulação dentro do partido que presidiu, mas enfrenta enormes dificuldades para deixar a prefeitura 2 anos e 9 meses antes do prazo; Alckmin está livre para sair do governo no prazo normal de desincompatibilização, melhorou nas pesquisas, mas ainda não atingiu um patamar que dê ao PSDB plena confiança em sua performance eleitoral.

O mais complicado para Alckmin é que de agora até março - quando o PSDB definirá o candidato - ele não terá a sua disposição muitos mecanismos para expor-se ao eleitorado e, eventualmente, aumentar a sua expectativa de voto. O que havia (o programa nacional do PSDB do segundo semestre e os comerciais de TV e rádio) já foi utilizado. Agora, ele só poderá usar o noticiário comum.

NO PMDB

O presidente do PMDB, Michel Temer, disse ontem que o apoio de César Maia a José Serra não altera os planos do PMDB de lançar candidato próprio à sucessão presidencial. Ele considerou que a aliança do tucano com o PFL é eleitoralmente relevante, mas sustenta que a decisão do PMDB quanto à candidatura está solidificada.