Título: A caixa preta dos fundos de pensão
Autor: Ricardo Noblat
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2005, Nacional, p. A10

Tá esquentando a chapa do ex-ministro Luiz Gushiken, atual assessor do presidente da República. E também a de um selecionado grupo de pessoas que se meteram com fundos de pensão da metade do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso para cá. Depois de amanhã, em sessão secreta, os membros da CPI dos Correios conhecerão os resultados das investigações realizadas até aqui sobre desvio de grana dos fundos e outras cositas mais. Elas foram comandadas pelo deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

A impressão digital de Gushiken foi encontrada em ações suspeitas do Petros (fundo dos funcionários da Petrobrás) e da Previ (fundo dos funcionários do Banco do Brasil). Os dois perderam muito dinheiro no governo Lula.

A Petros, por exemplo, perdeu R$ 53 milhões em 2002 nas chamadas "operações derivativas", que significam uma aposta no valor futuro de um determinado ativo - taxa de câmbio ou taxa de juro, por exemplo. Em 2003, a perda atingiu quase R$ 90 milhões.

Quem ganhou com ela? A CPI está no encalço. Gushiken talvez saiba - mas não conta nem jamais contará. O presidente da Petros, Wagner Pinheiro, foi indicado para o cargo por Gushiken, assim como Sérgio Rosa, presidente da Previ.

A Previ perdeu pouco em operações de mercado. Mas perdeu muito em investimentos imobiliários e em empresas das quais é acionista - como a Vale do Rio Doce e a Brasil Telecom, entre outras.

Vai sobrar também para Marcelo Sereno, ex-diretor de Comunicação do PT. A CPI será informada de que ele patrocinou estragos no Postalis (fundo dos empregados dos Correios) e no Núcleos (fundo dos funcionários da Eletronuclear).

Os desafios de Lula para se reeleger

1. Recompor-se com o PT. Pode até governar sem ele, mas disputar a eleição, não.

2. Acertar o tamanho da distância que deve manter do PT para consumo externo. Se muito grande, correrá o risco do isolamento. Se pequena, o risco de se comprometer.

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3. Arranjar um discurso que sirva para seduzir novamente as pessoas. Pode ser o de 2002 acrescido da palavra "mais". Mudança para quem "mais precisa". Ou então "mais mudanças".

4. Construir uma forte aliança

partidária.

5. Fome Zero foi puro marketing. Bolsa Família, sozinha, não resolve. A economia tem que embicar para cima de vez. Está com pinta de que não será assim.

6. Por falta de nomes, não funcionou aquela história de "traidores". Precisa apontar culpados pelas dificuldades do governo. E afastar-se deles.

7. A saída de Dirceu eliminou a cabeça que (des)organizou o governo. Agora é com Lula. Ou mostra apetite para governar ou não se livrará do estigma de que é um despreparado para o cargo.