Título: Saddam: 'Não temo ser executado'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Internacional, p. A11

As primeiras testemunhas depuseram ontem na terceira sessão do julgamento de Saddam Hussein e sete assessores. Mas novamente o ex-ditador iraquiano conseguiu aproveitar sua aparição em público para questionar a legitimidade do tribunal. Trechos do julgamento estão sendo exibidos pela TV local e vistos por milhões de iraquianos. Houve uma interrupção de 90 minutos depois que os advogados de Saddam abandonaram a sala em protesto contra os procedimentos (ler abaixo). O julgamento prosseguirá hoje. O ex-ditador ridicularizou a promotoria, disse não ter medo de ser executado e ameaçou indiretamente o juiz Rizgar Mohammed Amin. "Quando a revolução do Iraque heróico chegar, você prestará contas", advertiu Saddam, ao que Amin respondeu: "Isto é um insulto à corte. Estamos buscando a verdade."

Saddam interrompeu várias vezes o depoimento de testemunhas do massacre de Dujail, em 1982, no qual 140 xiitas foram mortos pelas forças do governo depois que ele escapou de um atentado nessa aldeia. Esse é o primeiro caso contra Saddam levado a julgamento.

O depoimento mais emotivo foi o de Ahmed Hassan Mohammed, de 38 anos, que deu detalhes sobre o massacre, chegando a dizer que o arsenal de torturas das forças iraquianas incluía uma máquina de moer carne na qual eram enfiados membros de seres humanos vivos.

Depois de ouvir as testemunhas, Saddam defendeu suas ações em Dujail e sugeriu que Ahmed Hassan precisava de tratamento psiquiátrico. A defesa tentou desqualificar o depoimento de outra testemunha,Awad Jawad, que tinha apenas 10 anos na época do massacre.

À noite, um porta-voz das forças dos EUA informou que o ex-primeiro-ministro iraquiano Mohammed Hamza al-Zubaidi morreu na sexta-feira, aos 67 anos, num hospital militar em Bagdá, em conseqüência de parada cardíaca. Ele era um líder importante do governista Partido Baath, acusado de massacre de xiitas. Foi preso em 2003.

NOVO SEQÜESTRO

Um grupo armado seqüestrou ontem em Bagdá o engenheiro francês Bernard Planche, que trabalha para uma ONG especializada em tratamento de água. Ele é o sexto ocidental seqüestrado por grupos rebeldes no Iraque em apenas dez dias.