Título: Para EUA, alta abstenção reflete falta de confiança no processo eleitoral
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Internacional, p. A12

O governo de George W. Bush procurou ontem desqualificar a vitória da coalizão do presidente venezuelano, Hugo Chávez, na eleições legislativas. Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Adam Ereli, "a taxa de abstenção muito alta e as manifestações de preocupação (sobre a lisura do pleito) feitas por preeminentes venezuelanos (da oposição) ... refletem uma ampla falta de confiança na imparcialidade e na transparência do processo eleitoral". Apenas 25% dos eleitores compareceram às urnas. Ereli acrescentou que Washington aguardará os relatórios dos observadores enviados pela União Européia e pela Organização dos Estados Americanos antes de fazer "qualquer tipo de avaliação final". Lembrado ontem por um repórter de que a taxa de abstenção dos americanos em eleições legislativas também é elevada, o porta-voz desconversou. Em reunião fechada, na semana passada, em Washington, o próprio embaixador dos EUA em Caracas, William Brownfield, reconheceu que Chávez, graças ao uso que vem fazendo das receitas do petróleo para manter a simpatia do eleitorado mais pobre, não precisaria montar uma fraude para ganhar a eleição.

O novo triunfo eleitoral dos chavistas veio a complicar a estratégia da Casa Branca de tentar isolar e desacreditar Chávez perante não apenas os venezuelanos, como também os demais latino-americanos e mesmo de alguns grupos de eleitores nos próprios EUA, que são hoje beneficiários da generosidade calculada de Caracas.

No mês passado, o governo da Venezuela, que controla a petrolífera Citgo nos EUA, anunciou grandes descontos na venda de óleo de calefação a regiões de Nova York, Massachusetts e outros Estados, em acordos negociados com os deputados federais dessas áreas. É verdade que o líder venezuelano ganhou um inimigo jurado no Congresso ao não autorizar, recentemente, o desembarque em Caracas do influente deputado Henry Hyde, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Mas, ao mesmo tempo, Chávez mantém uma rica campanha para ganhar corações, bolsos e mentes de políticos americanos. Entre 2003 e 2004, gastou US$ 1,6 milhão em serviços de lobby prestados pela firma Patton Boggs, uma das maiores do ramo em Washington.