Título: Presidente da Petrobrás critica o BC
Autor: Irany Tereza e Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, juntou-se aos descontentes e fez ontem, publicamente, pela primeira vez desde que assumiu o cargo, críticas severas à política monetária conduzida pelo Banco Central (BC). "O mundo vai além da estabilidade de preços e das metas inflacionárias", declarou, em palestra para executivos do mercado financeiro, na sede do Ibef-Rio. Horas depois, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, voltou a defender "ajustes" na política econômica. Ele insistiu na necessidade de redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), referência para as operações de financiamento do banco, como condição básica para atrair investimentos e promover o crescimento no País. A taxa hoje é de 9,75% ao ano.

Embora não tenha especificado o que seria um "patamar aceitável", em várias ocasiões anteriores Mantega comentou já haver condições para fixar a TJLP em 8%. Ontem, ao lado de Gabrielli na solenidade de assinatura de três contratos de financiamento do banco para a Petrobrás, ele buscou um tom ameno para as críticas, mas não se furtou de reclamar da política econômica.

Ao contrário de Mantega, que falou depois de provocado por jornalistas, as críticas do presidente da Petrobrás foram espontâneas, durante almoço-palestra com analistas, na entrega do prêmio O Equilibrista ao empresário Roberto Garcia, presidente da petroquímica Unipar. Gabrielli aproveitou o discurso, no qual falava sobre as dificuldades enfrentadas pelos administradores de empresas do País, para reclamar dos efeitos "de decisões políticas".

Na entrevista após o evento, em vez de amenizar o tom, ele enfatizou as críticas, citando o Federal Reserve (Fed, o BC americano) como exemplo. "O Brasil está focado apenas na política inflacionária. O Fed também olha o crescimento do PIB e a geração de empregos. São variáveis relevantes", disse.

Sem citar o BC, o presidente da Petrobrás disse que a política econômica com foco na inflação causa grande impacto na estratégia das empresas. A Petrobrás depende do crescimento econômico para aumentar suas vendas, explicou. "A elasticidade da demanda de combustíveis em relação ao PIB é muito alta", afirmou o executivo.

Mantega, que antes direcionava as críticas à equipe econômica, agora mira diretamente o BC. Ontem, ao comentar o relatório Focus do BC, que reduziu de 3% para 2,6% a projeção de crescimento do PIB, ele afirmou que "essas revisões são muito de curto prazo. "O importante é saber que nunca foram feitas políticas econômica, externa e fiscal tão eficientes como agora. É claro que alguns ajustes têm de ser feitos de modo que ela tenha um crescimento sustentável de longo prazo, num volume compatível com nossas necessidades", disse.

Carlos Lessa, antecessor de Mantega no BNDES, foi afastado por ter qualificado de "pesadelo" a política do presidente do BC, Henrique Meirelles. Ontem, ele apoiou as críticas de Gabrielli e Mantega. "Ele (Mantega) deve estar em estado de aflição total porque é suficientemente macroeconomista para perceber que assistimos a um novo vôo de galinha".