Título: Contrariando Lula, Mercadante e Marta podem levar PT a prévias
Autor: Ana Paula Scinocca Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2005, Nacional, p. A4

Presidente não quer disputa pré-eleitoral em nenhum Estado para evitar que partido sangre com esse processo

O PT de São Paulo deu o pontapé inicial para a disputa ao governo do Estado ignorando a recomendação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que não haja prévias para a escolha dos candidatos em nenhum lugar do País. Ontem, à revelia de Lula, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercante, e a ex-prefeita Marta Suplicy colocaram na mesa suas pré-candidaturas e não mostraram nenhuma disposição de abrir mão delas. "Não tenho motivo nenhum para desistir. Estou sem mandato, tenho garra, coisa para mostrar e perdi a eleição (para o governo em 1998) por 0,4%, fruto de manipulação de pesquisa. Por que duvidar agora?", afirmou Marta, ao chegar à quadra do Sindicato dos Bancários, no centro de São Paulo, onde o encontro paulista do partido reuniu cerca de 500 pessoas.

Ela tem pressa. Com tempo para rodar pelo Estado, já visitou 150 cidades. Até aqui praticamente isenta das denúncias do mensalão, Marta apresenta sua gestão na Prefeitura como trunfo, dizendo ter mais credenciais para representar o PT e "coisas palpáveis" para mostrar. "Isso me ajuda um pouquinho", provoca, numa alusão ao fato de que Mercadante nunca teve um cargo majoritário.

Marta acha que o ideal é não haver prévia, mas não a descarta. "Prévia não me assusta."

Mercadante é mais discreto, mas não menos decidido. Ontem, destacou o entusiasmo em representar o PT. Falou da importância do Estado e do "esgotamento do projeto do PSDB". Ele admite que a prévia é um instrumento que o candidato tem, mas, como Lula, não a considera o melhor caminho hoje.

O PT definiu que o prazo de registro de candidaturas é março. A prévia paulista, se houver, será em maio. Lula prefere Mercadante. Marta acredita ter mais apelo na militância. Ontem, porém, o senador foi mais aplaudido que ela. Mercadante tem vantagem no interior, mas enfrenta desgaste: sua posição no início da crise, quando ameaçou deixar o PT, não foi esquecida.

O ex-presidente do PT, ex-ministro e ex-deputado José Dirceu, que no passado declarou publicamente apoio a Mercadante, recuou. Disse que, dada sua situação de deputado cassado, não manifestará apoio a um ou outro e vai trabalhar na campanha para quem o partido escolher.

Na quinta-feira, Lula conversou com os presidentes nacional e estadual do PT, Ricardo Berzoini e Paulo Frateschi. Avisou que não admitirá que o partido sangre por causa de prévias acirradas em nenhum Estado. Ele já havia recebido Marta e Mercadante na segunda-feira.

"Não dá para começar a brigar agora", repete Lula a interlocutores nos últimos dias. "O quadro está indefinido. Vocês não acreditam, mas só vou decidir em março se serei candidato." A prioridade agora, deixou claro, é defender o governo e o PT.

Ontem, Frateschi insistiu na tese de Lula. Citou a briga entre os gaúchos Tarso Genro e Olívio Dutra, que acabou com a derrota do PT em um até então sólido reduto eleitoral. Desta vez, o PT gaúcho foi o primeiro a fechar contra realizar prévias. "A dor ensina a gemer", disse Frateschi.

UNIDADE

"O PT tem grande chance de ganhar o governo de São Paulo, mas para isso é preciso unidade e a prévia não é bom caminho, como mostraram Rio Grande do Sul e Santos", afirmou Francisco Campos, secretário-adjunto de Organização. "Vamos demorar dois ou três meses para cicatrizar as feridas e estar prontos para enfrentar a máquina do PSDB no Estado."

Além de São Paulo, as prévias tomam corpo em Santa Catarina, Distrito Federal e Ceará. Segundo Gleber Naime, coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral, o PT negocia para ter na cabeça-de-chapa candidatos de outros partidos em nove Estados, aí incluindo Rio Grande do Norte, Alagoas, Amapá, Amazonas e Roraima.