Título: Curadores se julgam a salvação
Autor: Irany Tereza, Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2005, Economia & Negócios, p. B21

Presidente do Conselho da FRB responde a críticas e garante que não houve interferência na busca de solução para a empresa

RIO - O presidente do Conselho de Curadores da Fundação Rubem Berta (FRB), Cesar Curi, rebate as críticas de que os curadores não são profissionais preparados, classificando-as de "falácias". Ele fez questão de listar algumas de suas especializações, como MBA em administração empresarial e pós-graduação em qualidade e produtividade. Sobre as acusações de que a FRB interferiu na busca de uma solução, ele se defende, lembrando que a meta é o "soerguimento" da Varig. "Se eu explicasse todos os detalhes, seria muito bom para a fundação, mas muito ruim para a Varig. Prefiro prejudicar a minha imagem e a da fundação", declara Curi. Paulo Sampaio, que participou da elaboração da aviação regional brasileira, desaprova a gestão de Zylbersztajn, mas acha uma temeridade sua demissão. "Não era a hora de demissão. A Varig está passando por um suicídio coletivo. Não acredito que ela passe do Natal."

Segundo a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, em algum momento a demissão do grupo de Zylbersztajn teria de acontecer, por causa de decisões erradas. "O modelo de gestão da FRB tem que passar por um aperfeiçoamento, se modernizar diante das dificuldades."

Arnim Lore, ex-diretor do Unibanco, um dos principais credores da Varig, assumiu a presidência da empresa em maio de 2002. Levou para o conselho de administração dois importantes representantes do governo Fernando Henrique Cardoso. Clóvis Carvalho, ex-ministro-chefe da Casa Civil, e José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda. E foi, da mesma forma, afastado. Um exemplo emblemático do que a FRB espera da União é o que ocorreu quando Lula já estava confirmado como presidente do País. Na época, o presidente executivo da Varig era Arnim Lore que tentou, da mesma forma que os executivos afastados este mês, retirar o controle da fundação.

"O histórico dos últimos 10 anos de administração da fundação indica que eles deixaram de cumprir com princípios básicos de governança corporativa", afirma Lore. Nessa época, o presidente do conselho de curadores era Yutaka Imagawa, a eminência parda da Varig durante mais de dez anos. "Quando estava tudo armado, eles (FRB) votaram contra", acrescenta. Lore saiu porque Imagawa não concordou com um plano que previa devolução de créditos retidos por credores de US$ 118 milhões e a unificação de todos os conselhos da companhia. Além disso, Imagawa desconfiou de uma cláusula na qual uma outra operação de US$ 300 milhões de debêntures do BNDES poderia parar na mão dos credores. E o Unibanco conseguiu rever os créditos.

O então ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, chamou Imagawa para uma reunião para discutir a situação da empresa. Imagawa desprezou o convite, certo de que tinha uma solução na manga: seus contatos em Brasília garantiram que assim que Lula assumisse haveria o acerto de contas entre o que o governo deve à Varig (a companhia pleiteia R$ 4,5 bilhões) e o que a empresa deve à Receita e ao INSS, basicamente o mesmo valor.