Título: Hong Kong espera manifestações pesadas
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2005, Economia & Negócios, p. B10

Negociadores concluíram em Genebra uma reunião que foi tão inútil quanto as demais

GENEBRA - Apesar da pressão dos chefes de Estado das sete nações mais ricas (G-7), reunidos em Londres, por mais concessões mútuas nas negociações da Rodada Doha, os ministros das 194 nações da Organização Mundial do Comércio (OMC) concluíram ontem, em Genebra, a última reunião preparatória da conferência de Hong Kong sem avanços na abertura do mercado agrícola da União Européia (UE). No final, aprovaram apenas um pacote de ajuda aos países mais pobres, de U$ 4 bilhões por ano. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, que está em Genebra, e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que foi a Londres como convidado do G-7, até afinaram o discurso com a promessa de abrir mais os mercados industrial e de serviços brasileiros, desde que a UE faça o mesmo com o seu mercado agrícola. Mas foi em vão.

Os negociadores acabaram aprovando um rascunho da declaração de Hong Kong, onde deverá ser concluída a Rodada, dentro de dez dias, que não faz mais que adiar as resolução para 2006. O representante comercial dos Estados Unidos, Rob Portman, admitiu que não houve acordo nem mesmo sobre o prazo para que essas decisões sejam tomadas, entre elas a queda de subsídios agrícolas.

A comissária européia da Agricultura, Marianne Fischer-B¿el, atacou o ministro das Finanças do Reino Unido, Gordon Brown, por ter proposto o corte de subsídios agrícolas na UE. "Não é o momento de fazer tal proposta", disse ela. "O debate sobre a reforma da política agrícola só pode ocorrer em 2009."

O encontro de Hong Kong tinha o objetivo de fechar um acordo sobre a liberalização dos mercados agrícolas e industriais. O Brasil pressiona para que, pelo menos, seja fixada em Hong Kong a data de eliminação dos subsídios às exportações agrícolas. Mas essa possibilidade foi descartada ontem. O que ficou estabelecido é que essa decisão será tomada até 1º de março de 2006.

"Teremos avanços apenas marginais em Hong Kong; não chegamos ainda à barganha central das negociações e não houve troca de ofertas", disse Amorim. O comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, também reconheceu que os avanços na reunião de ontem foram " limitados". "As estrelas não estão alinhadas para que o impasse seja superado", disse Portman, dos EUA.

VIOLÊNCIA

Em Hong Kong, aumenta o temor de protestos e violência durante o evento. Até ameaças terroristas já foram feitas. O esquema de segurança contará com 9 mil policiais. A expectativa dos organizadores é que, além de 6 mil representantes de governos e 3 mil jornalistas, cerca de 10 mil ativistas realizem protestos durante a conferência.