Título: OMC: Brasil recebe apoio inédito
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2005, Economia & Negócios, p. B10

Britânicos e americanos unem-se aos brasileiros para pressionar os europeus a melhorar propostas de abertura no setor agrícola

LONDRES - Brasil, Reino Unido e Estados Unidos formaram ontem uma aliança inédita, durante a reunião dos ministros das Finanças do G-7, para pressionar os países da União Européia, liderados pela França, que resistem a uma maior abertura de seus mercados agrícolas. O objetivo é tentar flexibilizar a posição do bloco europeu e evitar o fracasso da reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), que será realizada a partir do dia 13 em Hong Kong. A proposta apresentada quinta-feira pelo presidente Lula ao primeiro-ministro Tony Blair para que os chefes de Estado intervenham diretamente nas negociações nos próximos dias, eventualmente através de uma reunião emergencial, recebeu um respaldo preliminar de Washington e Londres.

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse que a pressão sobre Bruxelas ganhou agora uma nova abordagem. "A Europa começa a se mover, não em conjunto, mas por iniciativa de alguns países importantes como Alemanha e Inglaterra, além dos Estados Unidos", afirmou. "Espero que isso faça com que a União Européia adote uma posição mais avançada."

PASSO À FRENTE

O ministro das Finanças britânico, Gordon Brown, surpreendeu a delegação brasileira, no encerramento do encontro do G-7, ao convidar Palocci para fazer uma declaração bilateral à imprensa sobre as negociações da OMC. "Tivemos um significativo passo adiante na posição do Brasil, que anunciou que se houver progressos de todas as partes, estará pronto para a oferecer avanços nas suas tarifas industriais e setor de serviços", disse Brown. Ele acrescentou que o representante da Índia também sinalizou melhoras na oferta de acesso ao setor de serviços do país, além de "sinais positivos" da China. "O mundo quer que as negociações em Hong Kong tenham sucesso", acrescentou Brown.

Palocci reiterou, durante a reunião, a posição apresentada nas últimas semanas nas negociações da OMC pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "O Brasil está disposto a dar um passo à frente nas negociações de tarifas industriais e também a discutir o acesso ao setor de serviços no Brasil, mas desde que a União Européia e os Estados Unidos avancem de maneira substancial em agricultura, cortando tarifas de maneira expressiva, marcando datas para eliminar os subsídios às exportações e também reduzindo o número de seus produtos sensíveis (produtos que continuarão sendo protegidos)", disse Palocci. "Praticamente todos os produtos agrícolas em que temos grande interesse estão na lista de alta sensibilidade da União Européia, e com essa postura não vamos a lugar nenhum em Hong Kong." Ele não detalhou quais seriam as propostas brasileiras, mas, como exemplo, citou a privatização do setor de resseguros no País.

Segundo Palocci, a reação americana e britânica à posição brasileira foi muito positiva. "O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, deu forte apoio às declarações do Brasil e outros países, como a Alemanha, Canadá e Índia e Itália, manifestaram apoio", disse. "Mas a França tem uma posição mais serena sobre o assunto."

Apesar de integrar a UE, o Reino Unido se opõe à França na questão agrícola. Além disso, segundo analistas europeus, Blair está ansioso para encerrar a sua presidência rotativa do G-7 e da União Européia no final deste ano com algum êxito concreto. Palocci disse que a resistência no bloco europeu a uma abertura agrícola fica restrita a poucos países, entre eles a França. "Mas a União Européia não se move isoladamente, apenas através de consenso, e é isso que está barrando um avanço nas negociações", disse. "Há uma concordância geral de que precisa haver avanços na questão agrícola, mas percebemos que alguns países ficam nas questões declaratórias".