Título: PIB encolhido afasta investimentos
Autor: Alberto Tamer
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2005, Economia & Negócios, p. B10

Quem tem medo no exterior de um Produto Interno Bruto (PIB) que encolheu 1,2% e agitou o País nestes últimos dias? Os aplicadores que nos financiam comprando títulos brasileiros, não; os investidores diretos que geram crescimento, sim. Neste fim de semana os agentes do mercado financeiro continuavam não só confiando no Brasil, mas até cobrando juros menores num mercado muito animado. São dois aspectos de uma só questão. Os que emprestam continuarão emprestando pois sentem que temos condições de pagá-los, têm liberdade para sair quando quiserem e há mercado para revender os títulos brasileiros; os que investem, que vêm para ficar, se retraem porque dependem da expansão consistente do consumo interno; eles investem para exportar, sim, mas precisam de um mercado interno que sirva de base para sua produção.

E o PIB do terceiro trimestre mostra que esse mercado está encolhendo. Enquanto isso não se define, continuarão esperando lá fora e buscam novas oportunidades em outros países que competem com êxito com o Brasil.

Corremos o risco de recuar para mais atrás ainda; em questão de investimento externo, se andávamos com a lentidão dos atrasados que não têm pressa, com esse PIB aí vamos ficar marcando passo no mesmo lugar como já estamos fazendo há anos ao receber aí uns minguados US$ 15 bilhões, se tanto, enquanto os outros avançam, levantando pó...

Resumindo, quem empresta para o Brasil continuará emprestando; quem investiria, não investirá tão cedo, esperando um câmbio menos danoso, juro e carga tributária menores e algum sinal do governo sobre no próximo ano, ainda imerso nas sombras da incerteza.

A conseqüência deste quadro é que, apesar de tudo, podemos seguir contando com dinheiro que lubrifica a engrenagem, mas não liga e impulsiona o motor da economia. Ele exige investimentos, não só empréstimos. Investimentos que se tornarão ainda mais arredios diante deste PIB desanimador.

NÃO É RECESSÃO

Na City de Londres, o mercado financeiro recebeu a notícia surpreso, mas tranqüilo, informam à coluna três fontes, altamente posicionadas em títulos brasileiros, com as quais conversei longamente; elas refletiam o clima geral quanto ao País.

Tranqüilidade, porque, pela leitura dos experientes e vividos homens do mercado internacional, "esse 1,2% não indica uma tendência de recessão. Não se espera uma reincidência de quedas dessa ordem a partir de agora".

Outra razão é o bom comportamento das contas externas, o aumento significativo das reservas, o superávit comercial e o ajuste fiscal. "Os fundamentos que interessam ao investidor financeiro externo são bastante positivos."

Podem até estar errados, mas a interpretação no momento é essa. E, vejam, não é apenas um ponto de vista isolado; são todos os que estão aplicando hoje bilhões de dólares em títulos brasileiros. Alguns até poderiam estar errados, mas nos últimos dias a maioria continuava comprando o que explica, por exemplo, a forte valorização do Global 40, título brasileiro que vence em 2040, negociado 1,24 ponto acima do valor de face. E explica também por que o risco Brasil despencou de 4,86%, juro médio a ser aplicado sobre a cotação de papéis do Tesouro americano, para 3,30% mesmo após a divulgação do PIB encolhido. E, acreditem, esse é o menor risco da história! Já chegamos a pagar 8% e 9%!

SAÍDA É IR LÁ FORA, MAS. ..

E voltamos ao cerne da questão fundamental, investimentos externos, sem os quais, associados aos internos, a economia não cresce, nem agora nem depois, nem depois, nem nunca. Qual é a saída? No momento em que o consumo interno desaquece, o PIB encolhe, a única saída a curto e a médio prazos é ir buscar no exterior o mercado que não temos aqui.

Ou seja, exportar, vender para quem está consumindo mais. E, como vimos na última coluna, as exportações estão aumentando e os países mais ricos estão consumindo muito. É isso o que todos afirmam sem ninguém contestar.

E O DÓLAR?...

Mas aí entra o famoso obstáculo do câmbio. Mais exportações e mais investimentos externos, mais os juros elevados, irão fazer entrar no Brasil montanhas gigantescas de dólares; isso derruba a cotação do dólar diante do real, valorizando-o ainda mais. Para essa valorização repercutirá logo mais adiante nas próximas exportações.

Então, não há saída? Tem, sim, tem. E ela, mais uma vez, é apontada nesta coluna pelo especialista em câmbio Emílio Garófalo Filho.

Eis o caminho proposto (atenção, Brasília!):

1 - criar opção de financiamento em reais para as exportações; no momento, o financiamento é feito em dólares, "o que significa que o exportador vende hoje o dólar que vai auferir só depois de vários meses, 360 dias antes do embarque, mais 210 dias depois do embarque. Isso dá um total de 510 dias! Ou seja, o exportador já oferece hoje, no mercado, pressionando para baixo a cotação, exportação, "dólares que ele fará ingressar em 570 dias!!!;

2 - modificação urgente da legislação cambial que, acreditem, não permite ao exportador reter os dólares da exportação, nem usá-los para pagar os seus compromissos seus passivos externos;

3 - As duas medidas mais óbvias e imediatas são a tão decantada taxa de juros e a ação mais firme do BC, seja na compra ou seja na oferta de derivativos, swap reverso. Esta é uma operação técnica que não pressiona a cotação atual do dólar.

Aí estão os cenários decorrentes do encolhimento do PIB, as saídas externas e internas nas palavras não do colunista, mas de especialistas em mercado financeiro internacional e em câmbio no Brasil. Que Brasília leia e, por que não, chame o Emílio Garófalo para conversar... Afinal, no passado ele viveu como diretor do BC, tudo isso - e muito mais...