Título: BC pretende ignorar apelo por ousadia
Autor: Lu Aiko Otta, Beatriz Abreu
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2005, Economia & Negócios, p. B8

Ceder ao ataque à dosagem dos juros seria abdicar da autonomia

BRASÍLIA - O Banco Central não pretende ceder um milímetro ao clamor por mais ousadia. Um participante das reuniões do Copom lembrou que se o BC está sendo acusado de "errar a mão" nos juros, é porque foi autônomo para tomar suas decisões. Portanto, assim pretende continuar. Lembrou ainda que já houve pressões semelhantes em 2003, quando o juro básico atingiu os 26,5% ao ano (atualmente está em 18,5%). O ministro Antonio Palocci declarou em Londres, sexta-feira, que na sua avaliação o BC não errou. "Mas é preciso levar em conta que a política monetária presta serviços ao País com custos, tem efeitos colaterais", disse. "Por isso, o debate sobre a intensidade da política monetária e outras políticas da área econômica é legítimo."

O debate sobre a política de juros se soma à polêmica sobre os gastos do governo. Também nesse caso, Palocci é acusado de ser conservador na liberação dos recursos, prejudicando a ação dos ministérios. Depois de muita pressão, o ministro concordou em afrouxar a mão.

A ordem de Lula é acelerar os gastos e não deixar que o ritmo das obras caia no início do ano, quando muito provavelmente o Congresso ainda não terá aprovado o orçamento de 2006. Amanhã deverá ocorrer reunião da Junta de Programação Orçamentária, na qual os ministérios serão autorizados a ampliar seus gastos este ano em R$ 2 bilhões. O governo também fará um agrado aos parlamentares, liberando cerca de R$ 1 bilhão para atender a emendas ao orçamento de 2005. Só o Ministério dos Transportes tem R$ 1,5 bilhão em pagamentos pendentes. "Mas isso não significa que vamos sair por aí fazendo uma gastança no final do ano", disse Palocci.

O outro pilar da política econômica, o câmbio, deverá ser alvo de bombardeio. O ministro Luiz Fernando Furlan já adiantou que 2006 será o ano com menor taxa de crescimento das exportações do governo Lula. Para ele, os contratos de venda ao exterior que seguraram a balança comercial até agora poderão não ser renovados diante do câmbio pouco compensador.

Segundo assessores, Lula quer pôr essa questão em debate. Palocci acha que não há, por enquanto, nenhum sinal de que o real forte esteja prejudicando as contas externas. Ele admite que alguns setores estão tendo queda em suas receitas, mas insiste que no geral as exportações vão bem.