Título: Baque da indústria foi generalizado
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2005, Economia & Negócios, p. B5

Houve recuo de 20 segmentos; Iedi prevê que 16 de 27 categorias fecharão 2005 com baixo crescimento ou queda de produção

RIO - A queda da produção da indústria foi generalizada e provocada pelo recuo de 20 segmentos no 3.º trimestre deste ano. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em alguns casos, o recuo supera em mais de dez vezes a queda média de 0,9% da indústria de transformação, ante igual período em 2004, como adubos e fertilizantes (-10%), resina (-11%) e vestuário (-12,4%). Projeção do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial mostra que 16 de 27 categorias industriais fecharão 2005 com baixo crescimento ou queda de produção. As estatísticas mostram que houve queda em vários bens intermediários, mas também em setores que foram afetados pelo recuo da exportações, ligados a investimentos, prejudicados com a queda agricultura e expostos à concorrência de importados. As variações levam em conta o volume da produção, comparado ao 3.º trimestre de 2004, na ótica das contas nacionais. A maior parte deles acumula retrocesso entre janeiro e setembro deste ano.

Houve recuo de 8,2% nos volumes de laminados a aço, de 6,8% em outros produtos de metal, de 5,4% em derivados de borracha e 3,6% em produtos petroquímicos. "Há muitos setores de bens intermediários na lista", diz a gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis. Ela diz que as quedas de volumes geram impacto no valor adicionado da indústria, que foi uma das responsáveis pela queda da economia no trimestre.

"Aparentemente, não foram dois ou três 'supersetores' que desabaram. Os bens intermediários ilustram isso", diz o diretor-executivo do Iedi, Julio Sérgio Gomes de Almeida. Bens intermediários são os produtos necessários para a fabricação de outros produtos. Na lista, também aparecem itens ligados à retração do setor da agricultura, diz o diretor do Iedi.

Neste caso enquadram-se adubos e fertilizantes, açúcar industrializado (variação de -14%) e óleos vegetais em bruto (-12%), diz Gomes de Almeida. Ele destaca que a crise da agricultura afetou o desempenho de máquinas e equipamentos (-2,4%), que são bens de capitais ligados a investimentos. O economista avalia que a queda dos produtos têxteis está relacionada ao avanço da concorrência externa. Em itens como tecidos, o recuo chegou a 6% no terceiro trimestre.

No segmento de couros e calçados, que vem enfrentando dificuldades nas exportações, a queda foi de 7,7%. Empresas do setor afirmam que o câmbio baixo prejudica a rentabilidade. O Iedi projeta alta de 2,3% para a produção física neste ano.