Título: A educação faz a diferença
Autor: Maria Cristina Mendonça de Barros e Tereza Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/12/2005, Novo Mapa do Brasil, p. H2

Nos últimos anos, a geografia econômica brasileira mudou de forma importante. As Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste ganharam espaço no PIB e melhoraram seus indicadores econômicos e sociais. No entanto, ainda estamos distantes de uma homogeneidade entre Regiões. As Regiões Sudeste e Sul continuam sendo as mais importantes do País, sob qualquer corte analítico que se faça. Usaremos neste texto a comparação educacional. É conhecido que as regiões com menor desenvolvimento e de economia menos diversificada são as que apresentam os piores índices de analfabetismo: no Brasil, 8 milhões de analfabetos (50% do total nacional) estão na Região Nordeste. A Região Sul, por sua vez, tem a menor taxa de analfabetismo : 7,1% da população maior que 15 anos de idade. No Nordeste, apenas 49% das crianças de 7 anos sabem ler e escrever, contra 85% na Região Sul. Entre as crianças nordestinas de 11 anos, 11% são analfabetas contra 1% no Sul.

A média do brasileiro, entre 15 e 24 anos, tem apenas o primeiro ciclo do ensino fundamental completo ( 4 a 7 anos de estudo). No entanto, as Regiões Sul e Sudeste são aquelas que apresentam porcentual mais baixo de pessoas na faixa de menor instrução (menos de 1 ano): 8% cada (contra 23% no Nordeste) e a maior concentração no nível mais graduado (mais de 11 anos): 23% no Sul e 26% no Sudeste.

A evolução do ensino médio é expressiva. Entre 1992 e 2001, o número de alunos matriculados no ensino médio na Região Sul subiu 114% e no ensino superior, 177%., contra 10% no ensino fundamental. É uma tendência nacional. Na média do Brasil, as matrículas no ensino médio e superior cresceram, respectivamente, 121% e 148% no período analisado. A despeito disso, embora cerca de 60% dos jovens entrem no ensino médio, só 47% o fazem antes dos 17 anos.

O crescimento acima da média nacional dos ingressos no ensino superior na Região Sul deve ser destacado. A região tem centros universitários importantes nas áreas metropolitanas das capitais, Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba e em cidades médias como Cascavel , Caxias do Sul e Santa Maria, além do Vale do Itajaí.

Dos 10 municípios do País cuja população tem mais anos de estudos, 4 estão na Região Sul (Florianópolis, Porto Alegre, Camboriú e Curitiba) e 6 no Sudeste.

O Ipea fez um estudo interessante, no qual compara o Brasil com o Chile e, dentro do Brasil, separa os jovens da elite do Sul do País, entendidos como aqueles que têm pais com curso universitário completo. Enquanto no Brasil, como vimos, a escolaridade média é de menos de 8 anos e no Chile é superior a 10 anos, entre os jovens da elite da Região Sul é maior do que isso. Nos últimos 20 anos, a escolaridade média dos jovens brasileiros cresceu 2,3 anos de estudo, avanço concentrado nos anos 90. Os grupos que mais expandiram sua escolaridade foram os dos entre 18 e 21 anos. Seriam necessários 15 anos, na velocidade atual, para que a escolaridade média brasileira chegasse à chilena e 18 para se comparar à da Região Sul.

A explicação principal para esta evolução é a renda. Em termos de renda, a Região Sul é a segunda do País. O Estado de maior renda é o Rio Grande do Sul, com 42% da renda regional, seguido do Paraná (35%) e de Santa Catarina (22%). Aqui os contrastes ainda são gritantes: a renda per capita é de até meio salário mínimo em 37% dos domicílios nordestinos contra 12% no Sul e Sudeste.

Pelo Censo de 2000, a renda per capita do Rio Grande do Sul é de R$ 12.071, a de Santa Catarina de R$ 10.949 e a do Paraná R$ 9.891. A média do Brasil é de R$ 8.694.

Além da renda, devemos destacar a formação cultural da região, fruto da colonização alemã e italiana. A Região Sul, diferentemente da Região Sudeste, não abrigou a enorme quantidade de migrantes oriundos principalmente da Região Nordeste, com formação inferior à média.

A diferença cultural gerada pelos hábitos, mais europeus que brasileiros, fez dessa região mais equilibrada que as demais. As populações se espalharam em cidades menores e no interior (88% da população do Sul vive em cidades de até 500 mil habitantes).

Maria Cristina Mendonça de Barros e Tereza Maria Fernandez Dias da Silva são sócias-diretoras da MB Associados