Título: Preso, Pinochet completa 90 anos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2005, Internacional, p. A34

Detido em casa e abandonado por políticos e militares, o ex-ditador foi saudado por poucos seguidores

O ex-ditador chileno Augusto Pinochet completou ontem 90 anos fechado em sua residência de Santiago, onde está em prisão domiciliar desde quinta-feira. Poucos partidários se concentraram do lado de fora da mansão e mesmo a cerimônia simples que a família havia programado para celebrar a data acabou cancelada. O comandante do Exército chileno, general Juan Emilio - visto com desconfiança pelos pinochetistas por ter pedido desculpas em nome da instituição por violações de direitos humanos durante a ditadura -, esteve na casa por cerca de meia hora. Foi a única autoridade chilena a visitar o ex-ditador.

"Viemos celebrar o aniversário porque ele nos livrou do comunismo ateu", disse na frente da mansão Celia Betancourt, uma pinochetista de 60 anos que desafiava o calor de 30 graus do meio-dia em Santiago. Levava nas mãos uma garrafa de champanhe. "Fui feliz por 17 anos e pude criar meus três filhos em liberdade graças a ele."

Alguns seguidores de Pinochet hostilizaram repórteres, fotógrafos e cinegrafistas que registravam o movimento na rua. "Esta é uma situação dolorosa e injusta, totalmente criada pela esquerda internacional e nacional", gritava Alejandro, de 20 anos, que esperou em vão a aparição de Pinochet no portão da casa.

A ausência de dirigentes políticos foi criticada pelo presidente da Fundação Pinochet, Luis Cortés Villa. "Muitos disseram que vinham cumprimentá-lo, mas não vieram", declarou. "Outros vieram só para não dar a impressão de que o deixaram sozinho."

O abandono contrasta com outros aniversários de Pinochet, como quando fez 80 anos, há dez anos, e ainda mantinha o comando do Exército chileno. Naquela festa, centenas de admiradores, entre autoridades políticas e militares e empresários, lotaram um hotel de luxo de Santiago, cantaram o Parabéns a Você e assistiram a shows de mariachi e de grupos que cantaram a canção favorita do general, Lili Marlene.

Hoje, Pinochet é réu em seis processos por desaparecimento de opositores e em quatro por corrupção. Durante a semana do aniversário, o líder do regime acusado pela morte ou o desaparecimento de cerca de 3 mil opositores teve duas prisões domiciliares decretadas em menos de 24 horas. A primeira, pelo caso de movimentação fraudulenta de pelo menos US$ 27 milhões em contas bancárias no exterior - num processo que se estende desde julho do ano passado; a outra prisão, decretada horas depois do pagamento de uma fiança que libertaria Pinochet no processo por corrupção, foi por causa da ação de repressão denominada Operação Colombo, de 1978, na qual teriam morrido 119 pessoas.