Título: Mercado revê alta do PIB para 2,66%em 2005
Autor: Francisco Carlos de Assis
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Economia & Negócios, p. B4

Os investidores do mercado financeiro reduziram suas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano de 3% para 2,66%, em pesquisa semanal divulgada ontem pelo Banco Central (BC). "Como o PIB do terceiro trimestre do ano ficou muito abaixo do esperado, seria normal que os analistas começassem a rever para baixo suas estimativas de crescimento", disse o economista José Márcio Camargo.

O ex-diretor do BC, Carlos Eduardo de Freitas, discorda, no entanto, do aumento do pessimismo em relação ao comportamento do PIB neste ano. "Acho que ainda é cedo para termos certeza de que o PIB terá neste ano um crescimento abaixo dos 3%."

Freitas ressaltou que a queda de 1,2% divulgada na semana passada pelo IBGE ainda é um dado preliminar. "Este porcentual pode ser revisado, como foi em outras ocasiões", comentou o ex-diretor, que disse ter dúvidas sobre o tamanho da contração do terceiro trimestre.

A queda das previsões de crescimento para este ano não chegou, no entanto, a contaminar as estimativas para 2006. Os números da pesquisa continuaram a apontar a possibilidade de a economia crescer 3,5% no próximo ano. "É possível que a taxa fique entre 3,5% e 4%", disse Camargo.

A taxa de crescimento modesto, porém, não deverá refletir numa queda mais rápida dos juros. A pesquisa do BC mostra que os analistas apostam em um corte de apenas 0,5 ponto porcentual em dezembro. Ao mesmo tempo, eles esperam inflação mais elevada. A estimativa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano subiu de 5,59% para 5,63%.

José Márcio Camargo ressalta que, no próximo ano, o BC terá mais espaço para reduzir os juros por causa do cenário mais positivo para o comportamento dos preços. "Estamos trabalhando com uma expectativa conservadora de que a taxa de juros possa chegar ao final do próximo ano em 15%."

Camargo não desconsidera, entretanto, a hipótese de que taxa possa fechar 2006 abaixo dos 15%. "No nosso cenário, estamos considerando uma inflação de 4,2% para o próximo ano. Como este porcentual é menor que os 4,5% da meta central, é possível que o BC tenha mais espaço para reduzir os juros."

No cenário imaginado por Camargo, a taxa real de juros ficaria em torno dos 10,5% em 2006, uma queda de quase 3 pontos porcentuais da taxa real de juros. Com isso, chegaria perto de um limite considerado adequado por parte dos economistas para evitar um recrudescimento da inflação.

O consultor Amir Khair, no entanto, discorda dessa tese e defende um corte mais ousado na taxa real de juros. "Isso diminuiria custos das empresas e poderia permitir um aumento dos níveis de investimentos na economia." Ele acredita que estes fatores ajudariam o BC a controlar a inflação. Para Khair, a taxa de juros não tem se mostrado um bom instrumento de combate ao processo inflacionário.

Já a taxa de câmbio, segundo Camargo, poderá sofrer uma desvalorização de 5% e ficar em cerca de R$ 2,30 no fim do ano. A previsão, segundo o economista, leva em conta um superávit na balança comercial em 2006 de US$ 35 bilhões a US$ 36 bilhões e uma sobra de capitais externos de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões.