Título: Meirelles culpa exportações por dólar baixo
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2005, Economia & Negócios, p. B14

As taxas de juros não são as principais responsáveis pela valorização do real, garante o presidente do Banco Central

O aumento significativo das exportações, com crescimento do saldo comercial brasileiro, é o principal responsável pela recente valorização do real, e não a taxa de juros, segundo avalia o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ontem, em seu primeiro pronunciamento público desde a redução de meio ponto porcentual na Selic, quarta-feira, ele sustentou que o saldo na balança comercial e os investimentos diretos estrangeiros comandam o fluxo do câmbio, seguidos de longe pelos investimentos financeiros, que são diretamente influenciados pela taxa básica de juros. Economistas e exportadores têm apontado os juros como principal responsável pelo câmbio atual. Mas, para Meirelles, "o que é importante notar é que, dentro do fluxo do câmbio no Brasil, temos diversos componentes e o mais importante hoje é o componente comercial, o saldo comercial brasileiro é o principal responsável pelo influxo de divisas no Brasil. Em segundo lugar temos o investimento direto estrangeiro e só num distante terceiro, o investimento financeiro".

O discurso, que devolveu aos exportadores a responsabilidade pela flutuação cambial, foi feita para uma platéia de empresários do setor, durante o 25º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex). Meirelles defendeu o câmbio flutuante, elogiou as compras de dólar do BC no mercado e disse que é preciso criar uma legislação cambial mais moderna no País.

Ele aproveitou para responder indiretamente ao presidente do BNDES, Guido Mantega, que citou a China como exemplo bem-sucedido de desvalorização da moeda para aumento da competitividade das exportações. "O Brasil já tentou controlar o câmbio e fracassamos", disse, lembrando que vários países também fracassaram.

Em seguida, acrescentou que "a China controla o câmbio, mas para isso acumulou reservas de US$ 800 milhões e a previsão é que irá a US$ 1 bilhão. Eles têm uma poupança que corresponde a 47% do PIB e podem fazer isso". Antes, Mantega havia citado a China ao falar do "câmbio incômodo" no Brasil e disse que a experiência chinesa do câmbio é bem-sucedida e merece atenção.