Título: Acordo cria supergasoduto na AL
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2005, Economia & Negócios, p. B6

O ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, finalizou ontem em Caracas os detalhes de um acordo para a construção de uma rede de gasodutos ligando Brasil, Venezuela, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai. A rede terá 10 mil quilômetros de extensão e custará US$ 20 bilhões. O anúncio do memorando de entendimento para a "grande interligação gasífera regional" será feito sexta-feira, na reunião de cúpula do Mercosul em Montevidéu, da qual participará também o presidente venezuelano, Hugo Chávez.

A construção da malha de gasodutos deverá levar cinco anos, e, depois de pronta, terá uma vida econômica de 25 anos. Com exceção do Uruguai, a maioria dos países é ao mesmo tempo consumidora e produtora de gás. Assim, a rede criará uma espécie de "condomínio", no qual os países produtores poderão colocar o seu gás no mercado comum, incentivando a sua comercialização.

A construção do "grid", como é chamada a malha de dutos, deverá modificar a composição da matriz energética brasileira. "O gás é a segunda fonte mais barata de energia elétrica", disse Rondeau. "E é uma fonte de energia limpa, já que praticamente todo o gás é queimado, causando menos problemas ambientais do que outras opções." A fonte mais barata, a hidrelétrica, requer investimentos de longa maturação e tem forte impacto ambiental.

O gás venezuelano terá um peso desproporcional nesse condomínio. O país dispõe de 150 trilhões de pés cúbicos de reservas provadas e estima-se que elas possam chegar a 200 trilhões de pés cúbicos. A Bolívia, grande fornecedora de gás do Brasil, tem reservas provadas de 27 trilhões de pés cúbicos, podendo chegar a 35 trilhões de pés cúbicos. No Brasil, as reservas provadas são de 8,5 trilhões de pés cúbicos e a meta é 11 trilhões de pés cúbicos.

VALOR IDEOLÓGICO

As primeiras licenças de exploração do gás natural venezuelano, no chamado Projeto Rafael Urdaneta, foram a leilão em outubro. Os ganhadores foram a companhia russa Gazprom e a americana Chevron. No mês passado, foram realizados novos leilões, vencidos pela Petrobrás-Teikoko, pela Chevron, pela hispano-argentina Repsol-YPF e pela venezuelana Winkler Oil. As licenças têm duração de 30 anos. Dos 29 blocos, 18 estão situados no Golfo da Venezuela e 11 na Península de Paraguaná, ambos no noroeste do país.

Chávez tem colocado bastante ênfase na necessidade de explorar o gás natural venezuelano, atenuando um pouco a dependência da economia do país na exportação de petróleo. Estima-se que, dentro de 50 anos, o valor das exportações de gás se equiparará às de petróleo. Para o militante presidente venezuelano, o gás tem um valor estratégico-ideológico.

Dos 2,65 milhões de barris diários exportados pela Venezuela, 1,35 milhão são vendidos para os Estados Unidos. Vendendo gás para os vizinhos sul-americanos, Chávez anseia não só criar novas fontes de divisas, mas também reduzir a importância relativa dos laços comerciais com os Estados Unidos.