Título: Exportador já aceita dólar flutuante
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2005, Economia & Negócios, p. B11

Em evento de comércio exterior, empresários fizeram propostas, em vez de reivindicar do governo medidas que os favoreçam

O real valorizado e os riscos que isso representará para as exportações no ano que vem dominaram os debates do Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex). Mas, diferentemente dos anos anteriores, os exportadores pareceram convencidos de que o câmbio é flutuante e não se limitaram a reivindicar medidas governamentais a seu favor. Nos bastidores, os empresários também criticaram o avanço do protecionismo da Argentina. Os empresários apresentaram propostas de mudanças, como a modernização da legislação. Esse comportamento foi notado e elogiado pelas autoridades presentes, incluindo o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles.

Meirelles destacou a iniciativa do setor de abrir as discussões e afirmou que é antiga a visão de que "tudo tem de ser resolvido com intervenção do governo". Ele lembrou que os países que tentaram controlar o câmbio acabaram abandonando a idéia.

"Na medida em que o real foi ficando mais forte, os custos (dos exportadores) vieram à tona", afirmou o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Benedicto Moreira. O representante da AEB também fez um alerta: "Não podemos dormir em louros. A política (para as exportações) não é completa".

O número de participantes no evento este ano foi de cerca de 3 mil pessoas, o mesmo do ano passado, em São Paulo. A AEB estima um encolhimento no número de empresas exportadoras este ano, quadro que poderá se repetir no ano que vem, com o câmbio na média atual, afetando a rentabilidade das exportações.

Durante a palestra, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), elogiou os efeitos positivos do comércio exterior para o País e emendou dizendo: "daí a necessidade de aumentar os nossos esforços e assumir compromissos óbvios, como o projeto que o Paulo Skaf (presidente da Fiesp) acaba de me apresentar". A proposta da Fiesp prevê a modernização da legislação cambial, da década de 1930.

Na véspera, o próprio diretor de Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, havia comentado que exportadores estão antecipando receitas de exportação e aplicando no mercado financeiro, por conta dos elevados juros. Isso, segundo ele, equivale a "dar um tiro no próprio pé" porque ajuda a sobrevalorizar o real.

Por isso, a entidade também defende medidas de curto prazo, como a nova linha de financiamento pré-embarque em reais e o encurtamento do prazo dos Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACCs).