Título: Oposição acusa Jobim de julgar com olho em 2006
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2005, Nacional, p. A22

Para Nonô, é ilegítimo 'julgar de acordo com pretensões eleitorais'; Virgílio diz que obstruir votação é 'questão ética'

Políticos de oposição subiram ontem o tom das críticas ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, que horas depois de votar pela suspensão do processo de cassação do deputado José Dirceu (PT-SP) participou de jantar oferecido pelo líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTN-RN), a uma dezena de parlamentares. Vice-presidente da Câmara, o deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL) foi um dos que reclamaram da desenvoltura de Jobim, que sonha em disputar a eleição presidencial do ano que vem. "Ter pretensões eleitorais é legítimo. O que não é legítimo é julgar de acordo com essas pretensões", disse Nonô. "As decisões do ministro só parecem fazer sentido se levarmos em conta o ponto de vista eleitoral dele. O presidente de um poder não pode se comportar como um deputado ou candidato."

Já o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), justificou a decisão da oposição de obstruir a votação do Orçamento-Geral da União até que o STF libere a Câmara para concluir o processo de cassação de Dirceu. O tucano alegou que o gesto da oposição não caracteriza intromissão na Justiça. "Só estou me metendo onde eu devo, que é no Congresso", afirmou Virgílio, que fustigou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). "Nós estamos obstruindo por causa de uma questão ética. Já o Mercadante, que fala em equívoco, também obstruiu o orçamento no governo passado, mas exclusivamente para atormentar o ex-presidente Fernando Henrique. Fez por motivos fúteis."

Mercadante voltou a defender Jobim e Dirceu - e a atacar a oposição. "O ministro Jobim tem história e estatura jurídica que o qualificam a exercer qualquer cargo. Ele nunca se comportou por atitudes político-eleitorais", disse. "O Supremo é a última instância. O que José Dirceu está pleiteando é que a acusação fale antes da defesa. Não tendo ocorrido isso, a defesa fica prejudicada." Ao falar no que considera "equívoco" da oposição, lembrou que quando o Supremo determinou a instalação da CPI dos Bingos ninguém no Congresso reclamou de intromissão. "A atitude da oposição é absolutamente equivocada, especialmente a de obstruir a votação do orçamento."

"Não podemos transformar briga política em instrumento de chantagem", reagiu o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. E insistiu que o Congresso "tem obrigação" de votar o orçamento, sob risco de "provocar grave crise nas finanças".