Título: Impasse ameaça enterrar relatórios parciais da CPI
Autor: Evandro Fadel
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2005, Nacional, p. A18

Fruet critica 'joguinho político', propõe parar votação e deixar tudo para relatório final

O sub-relator da CPI dos Correios, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), disse ontem que vai sugerir ao relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) o fim dos relatórios parciais. Inclusive deve propor que aquele que ele preparou sobre a movimentação financeira do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza não seja votado na próxima quinta-feira, como previsto. "Algumas pessoas querem inviabilizar a CPI e eu não vou legitimar esse joguinho político que vimos nesta semana", reclamou. "Não se discute o relatório, mas o que não está no relatório e virou uma disputa entre setores do PT e do PSDB." Por não ter incluído no texto o empréstimo feito por Valério em 1998 para pagar despesas da campanha à reeleição do então governador mineiro, o senador Eduardo Azeredo (PSDB), criou-se um impasse com membros do PT que fazem parte da comissão.

"Esse primeiro relatório era só para examinar os seis empréstimos do Marcos Valério para o PT em 2003 e 2004", justificou Fruet. "Mas nem isso está sendo possível viabilizar, por isso é melhor parar com as votações dos relatórios parciais e trabalhar de forma mais abrangente no relatório final."

ARMADILHA

Mas ele não quer abandonar o que foi feito até agora. Por isso informou que vai enviar o que possui ao relator, incluindo até mesmo os depoimentos da CPI do Mensalão. Também reunirá todas as sugestões feitas pelo PT com relação aos fatos envolvendo o senador mineiro, incluindo as declarações do coordenador financeiro da campanha, Cláudio Mourão.

Junto seguem ainda as declarações do publicitário Duda Mendonça e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Segundo ele, caberá a Serraglio divulgar aquilo que lhe for remetido.

O deputado adiantou que vai se antecipar ao fim da CPI, remetendo na próxima semana todos os documentos públicos que possui a respeito dos fatos investigados para o Ministério Público Federal, Ministério Público de Minas Gerais, Polícia Civil mineira, Polícia Federal e Conselho Regional de Contabilidade de Minas.

"A análise contábil-financeira da movimentação do Marcos Valério indica lavagem de dinheiro, tráfico de influência, sonegação, crime contra a ordem tributária, crime contra o sistema financeiro e fraude contábil", enumerou.

Fruet disse que está tomando essas precauções para não cair em uma "armadilha" que seria a disputa entre PT e PSDB. "Isso vai prejudicar a investigação como está prejudicando agora a votação do relatório parcial", argumentou. "As pessoas estão perdendo os limites entre a defesa de posições numa atitude civilizada e entram num processo que está se tornando autofágico."

Ele acentuou, no entanto, que continuará firme na investigação. "Mas já começo a tomar iniciativas fora da CPI", afirmou. Ele também sugeriu que a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) entre diretamente com pedido no Conselho de Ética do Senado, "se acha que tudo começou com Azeredo".