Título: Assessor de Lula diz que corte de gastos é balela
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2005, Nacional, p. A7

Marco Aurélio Garcia afirma que prestação de serviços públicos não pode ser paralisada, mas não acha que a equipe econômica esteja 'exagerando na dose'

O assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, afirmou ontem que é preciso "terminar com essa balela de cortes nos gastos correntes" e que diminuí-los seria paralisar o Estado, comprometendo a prestação de serviços públicos. "Os gastos correntes são fundamentais para o funcionamento do País. Gasto corrente é salário do professor, funcionamento de hospital, é tratar com que a máquina pública possa ser efetivamente eficiente. Esse é o problema", disse. "Fico estarrecido quando vejo uma série de pessoas na oposição, num País que já tem superávit de 4,25% - na verdade, até um pouco mais -, tratar de colocar esse tema da redução do gasto público. O gasto tem que ser eficiente, bem feito, isso é uma outra questão", continuou Garcia, depois de participar, no Senado, de um seminário sobre pensamento do economista Celso Furtado.

A questão dos gastos públicos é um dos temas da polêmica surgida recentemente entre a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. A ministra criticou principalmente o plano de ajuste fiscal de longo prazo sugerido pela equipe econômica. Garcia, na entrevista, afirmou ainda que a burocracia do Estado brasileiro é "infinitamente" melhor que a de outros países.

"Sei que não é a burocracia que prejudica. Sem esse funcionamento da burocracia, é impossível que tenhamos um país com bom desempenho. Outra coisa é que existam desvios burocráticos, que existam perversões burocráticas. Isso existe em todos os países, e temos de combater", afirmou. "Agora, tentar atribuir os problemas que o País enfrenta ao gasto público, pelo amor de Deus! Acho que, realmente, é uma perda de perspectiva completa dos problemas do País."

O assessor afirmou também que a ausência de Palocci, na reunião de ontem da Junta Orçamentária, no Palácio do Planalto, não significa divergências entre ele e Dilma: "Se houvesse acirramento, seguramente ele (Palocci) estaria lá para debater. Não haverá rupturas em relação à política atual. Simplesmente, daremos passos que vão melhorar o desempenho da economia e acentuar o desenvolvimento."

EXAGERO

Segundo Garcia, o País "pode e deve" aumentar os investimentos. "Isso vamos fazer na medida em que a política econômica está produzindo seus efeitos."

O assessor de Lula disse esperar que haverá condições de redução da taxa de juros "e, no futuro, de diminuir, com a taxa de juros, o próprio superávit primário".

A uma pergunta sobre a possibilidade de a equipe econômica estar "exagerando na dose" em termos de ajuste fiscal, Garcia respondeu: "Não, não acho que a equipe esteja exagerando na dose. O governo está discutindo permanentemente. A equipe dá conta da tremenda herança que recebeu."