Título: Para Alencar, gestão do orçamento é irresponsável
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2005, Nacional, p. A6

'Nosso discurso não assumiu o poder', afirma vice-presidente, que aproveitou seminário do PSB para atacar a política econômica do ministro Palocci

Serviu de palco para os críticos do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o seminário sobre política econômica organizado ontem pelo PSB, partido da base aliada. No encontro, realizado em Brasília, o vice-presidente da República, José Alencar, foi quem mais contribuiu - como de hábito - para o fogo amigo contra Palocci, atacando a política econômica, especialmente a taxa de juros. Alencar cobrou mudanças na política econômica e redução dos "juros estratosféricos" e disse que o governo já está quase terminando e que é preciso retomar o discurso da campanha de 2002 para garantir o crescimento.

"Eu não tenho dúvida de que é consenso nacional a retomada de um desenvolvimento capaz de se compatibilizar com as características do Brasil. Nosso discurso de campanha não assumiu o poder. Precisávamos ter feito aquela política. Mas há ainda tempo para isso, não tempo de praticar qualquer tipo de irresponsabilidade. Ao contrário, irresponsabilidade é tratar a administração orçamentária como a temos tratado", afirmou Alencar.

A situação de Palocci é delicada porque o ministro da Fazenda foi desafiado pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que cobra mais gastos do governo, e logo.

Ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa também participou do seminário do PSB. Lessa recorreu a termos como "indecente"e "repugnante" para qualificar a taxa de juros brasileira. Disse ainda que a política monetária atual é "frenética, ortodoxa, burra e suicida".

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), tentou aplacar a revolta dos aliados. Disse que o debate em torno de mudanças na política econômica são amplificados e que "por trás disso existe uma luta política feroz". Segundo ele, o debate econômico em cenário pré-eleitoral não é técnico e nem dissociado da luta política. Para Berzoini, o "binômio juros/superávit" atrai a imprensa, mas se ficarmos aí não faremos boa avaliação".

O coordenador do Movimento dos Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, reagiu, também com uma metáfora futebolística, o apoio que Lula deu a Palocci. Stédile comparou Palocci a "um lateral direito ruim que leva bola nas costas", contrariando declaração de Lula de que o ministro é como Ronaldinho Gaúcho, imprescindível pelo talento e competência.

Para o ex-ministro da Ciência e Tecnologia e presidente do PSB, Eduardo Campos, o debate, mais do que criar problemas para o governo, o fortalece, porque vem de forças que apóiam Lula e que pedem mudanças.Campos disse que o seminário do partido já estava marcado há muito tempo e que seria impossível prever que, durante sua realização, o ministro Palocci estaria sob ataque.