Título: PF prende 8 por sonegar US$ 30 mi
Autor: Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Metrópole, p. C9

Oito pessoas foram presas ontem pela Polícia Federal durante a Operação Babilônia, desencadeada para desarticular um esquema de sonegação fiscal, lavagem e remessa ilegal de dinheiro para o exterior com a criação de empresas fraudulentas no Brasil e exterior. As facilidades eram oferecidas por um escritório de advocacia carioca a empresas interessadas em ocultar patrimônio acumulado em caixas 2. A PF calcula que mais de US$ 30 milhões foram sonegados e movimentados pela quadrilha em dez anos. Preso no início da manhã, em casa, no Leblon, o advogado Chaim Henoch Zalcberg é suspeito de ser o líder do grupo. A investigação de seis meses teve origem no escândalo conhecido como Propinoduto, que revelou, em 2003, o envio ilegal de US$ 33 milhões para o exterior por um grupo liderado pelo ex-fiscal do governo do Estado do Rio Rodrigo Silveirinha. Naquela investigação, a PF identificou transações financeiras suspeitas que não foram apreciadas pelo inquérito.

Retomadas em junho, as investigações mostraram que o escritório de Zalcberg centralizava a constituição de empresas de fachada para legalizar e proteger do Fisco recursos não contabilizados.

O delegado Algacir Mikalovski, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (Delefin), explicou que os advogados criavam no Brasil uma empresa de sociedade limitada em nome de laranjas. Depois, abriam uma ou mais empresas em paraísos fiscais, as chamadas offshores. Por meio de doleiros ou de operações fraudulentas, como a simulação de empréstimos no exterior, remetiam o dinheiro do caixa 2 de seus clientes para as offshores, que, mais tarde, tornavam-se investidores das empresas fraudulentas no Brasil.

"O dinheiro de caixa 2 retornava ao País de forma fradulenta. A sonegação, a evasão de divisas e a lavagem de dinheiro foram praticados sem prejuízo de outros crimes, como a falsidade ideológica na constituição de empresas de fachada, que é uma forma de blindar o patrimônio", disse Mikalovski, listando crimes com penas previstas entre 10 e 15 anos de prisão. Só um dos endereços visitados pela PF centralizava 15 empresas de fachada.

O nome da operação, Babilônia, é uma alusão ao rápido crescimento do império babilônico, na Antiguidade. No fim da tarde, o principal sócio de Zalcberg, Antônio Wanis Filho, ainda era procurado. Em São Paulo, foram executados oito mandados de busca e apreensão e foi detido Renato Bastos Rosa.

A polícia agora vai identificar as empresas que usaram os serviços dos advogados. A Polícia Federal tem informações de que a maior parte dos recursos das empresas de fachada era aplicada no setor imobiliário e pode ter financiado empreendimentos inteiros no Rio.