Título: Palocci sofre novo bombardeio e fica ainda mais isolado
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/11/2005, Nacional, p. A4

Integrantes do governo e representantes do Planalto no Congresso fazem duras críticas à política econômica do ministro

Tânia Monteiro

Apesar de ter recebido elogios públicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, está cada vez mais isolado no governo. A política econômica foi bombardeada ontem por integrantes da administração federal e representantes do Planalto no Congresso, aumentando a pressão pelo aumento de gastos e pela redução dos juros. De manhã, seminário organizado em Brasília por um partido aliado, o PSB, foi dominado por críticas, com destaque para o vice-presidente José Alencar, que voltou a atacar a taxa de juros e a cobrar mais investimentos.

De tarde, ao participar de um debate no Senado, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, vice-presidente do PT, disse que é preciso "terminar com essa balela de cortes nos gastos correntes". Enquanto isso, em São Paulo, durante encontro com artistas, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), afirmou ter sido autorizado pela chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, a garantir que havia espaço para liberar mais verbas para a área de cultura. Para completar esse quadro, Lula e Dilma trocaram gestos de simpatia mútua diante de fotógrafos, ao longo de uma solenidade realizada em Fortaleza.

IRRITAÇÃO

O fato é que o presidente está irritado com a disputa entre Palocci e Dilma sobre os rumos da política orçamentárias. Na quinta-feira, Lula conversou individualmente com os dois ministros, numa tentativa frustrada de reduzir a temperatura. Enquanto o ministro da Fazenda faz questão de demonstrar ao presidente sua insatisfação com a pressão pela aceleração dos gastos, a chefe da Casa Civil acha que é preciso aproveitar as últimas semanas de 2005 e os primeiros meses de 2006 para executar projetos do governo.

Interlocutores de Lula alertam que sua "paciência tem limite". Apesar disso, o clima entre Palocci e Dilma nunca foi tão ruim. Um quer ver o outro pelas costas e está difícil até promover qualquer evento que conte com a presença de ambos.

No início da semana deve ser realizada uma reunião da chamada Junta Orçamentária, grupo encarregado de dar as diretrizes dos gastos federais. No encontro, o presidente pretende decidir o que fazer com o excesso de arrecadação obtido pelo governo durante o ano. Palocci e Dilma fazem parte da junta, que é completada pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Dilma entende que a decisão sobre o momento da liberação desses recursos extras deveria ser decidido pela Junta e não pelo Tesouro Nacional, como ocorre hoje. A ministra argumenta que esse procedimento seria mais democrático, ao abrir uma válvula de escape para atender aos pleitos dos ministros.

Ela afirma que se sente desprestigiada quando os ministros lhe levam pedidos de liberação de recursos para respectivos projetos, mas não conseguem o dinheiro. "A falta de entendimento está inviabilizando a execução do Orçamento", comentou um assessor palaciano, para quem todos estão correndo contra o tempo para realizar obras.

A situação de Palocci e Dilma foi tema do almoço de ontem entre os ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e das Relações Institucionais, Jacques Wagner, e o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho. Os três estão preocupados com as conseqüências da briga. A torcida é para que o fim de semana sirva para dissipar as mágoas.