Título: CPI vai rastrear caminho dos R$ 729 mi perdidos por fundos
Autor: Expedito Filho e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Nacional, p. A4

A CPI dos Correios vai aprofundar as investigações sobre perdas sistemáticas dos fundos de pensão de empresas estatais em operações com títulos públicos e derivativos - reveladas ontem pelo Estado - e checar se os lucros gerados, para pessoas físicas e empresas, teriam sido drenados para partidos políticos e campanhas eleitorais. O próximo passo das investigações é descobrir o destino desses recursos. O sub-relator da CPI, deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), anunciou ontem o relatório de prejuízos dos fundos de pensão de estatais e explicou que, no trabalho, foram destacadas as perdas "fora do padrão": "O que interessa à CPI são as recorrências, os resultados negativos sistemáticos e contínuos, com os fundos perdendo e os mesmos beneficiários ganhando sempre. Agora, vamos separar o que foi má gestão do que foi desvio de recursos", disse o sub-relator.

Segundo o relatório apresentado ontem, depois de 32 dias de análise dos investimentos feitos por 14 fundos de pensão, a CPI concluiu que, de 2000 a 2005, eles amargaram prejuízos de R$ 729,1 milhões em aplicações em derivativos (mercado futuro); e R$ 54,8 milhões, entre 2003 e 2005, em operações de compra e venda de títulos públicos. Essas perdas, reveladas pelo Estado, foram detalhadas em sessão secreta da CPI.

O fundo de pensão Prece, da Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae), somou R$ 309 milhões de prejuízos em cinco anos; em seguida vem o fundo das empresas de telecomunicações, Sistel, com R$ 153,9 milhões em perdas; o terceiro foi a Petros, fundo de pensão da Petrobrás, com R$ 64,8 milhões; a Funcef, da Caixa Econômica Federal, vem em quarto, com perdas deR$ 50 milhões.

MAIORES PERDAS

O ano que concentrou maiores perdas foi 2004, quando os fundos amargaram, juntos, R$ 227 milhões de prejuízos. A Previ, fundo do Banco do Brasil, é o único entre os 14 fundos analisados que praticamente não sofreu perdas no mercado futuro, porque opera pouco no ramo. Dez corretoras intermediaram negócios que geraram prejuízos de R$ 1 milhão ou mais. Só a Laeta S/A DTVM operou negócios que acarretaram R$ 55,3 milhões de prejuízo.

O trabalho relaciona pessoas físicas que tiveram ganhos milionários nas operações em que os fundos perderam. O investidor Cristiano Costa Beber lucrou R$ 12 milhões, valor das perdas do fundo Real Grandeza, de Furnas. Christian Almeida Rego lucrou R$ 9 milhões e o empresário José Carlos Batista teve R$ 7 milhões em lucros.

A CPI ainda não identificou nenhuma conexão com o valerioduto, mas Batista pode ser o elo entre os maus investimentos dos fundos de pensão com o mensalão: ele seria um dos donos da corretora Guaranhuns, usada para repassar dinheiro para o PL.

Entre as empresas, quem lucrou mais foi a Ocean Fundo de Investimento Financeiro, R$ 8,4 milhões, mesmo valor de uma perda da Prece.

Das 50 operações que deram os maiores prejuízos, foram identificados oito beneficiários que tiveram os sigilos quebrados pela CPI. Os demais estão sendo identificados por números.

Nos títulos públicos, o prejuízo maior aconteceu em 2004 e somou R$ 31,6 milhões, em operações de sete fundos de pensão. Este ano, o maior prejuízo foi da Núcleos, fundo de pensão das empresas Eletrobrás e Eletronuclear: R$ 13,1 milhões.