Título: Secretária confirma à CPI que Lula foi informado de propina em S. André
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Nacional, p. A5

Em depoimento à CPI dos Bingos, a secretária especial da Pessoa com Deficiência da Prefeitura de São Paulo, Mara Gabrilli, disse ontem que as pressões contra a empresa de ônibus de sua família - a Expresso Guarará - aumentaram depois que ela conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na conversa, em março de 2003, ela alertou o presidente para a existência de um esquema de extorsão de empresários em Santo André. De acordo com Mara, que é do PSDB, Lula chegou a perguntar quanto o pai dela, Luiz Alberto Gabrilli, pagava de propina ao esquema. A secretária disse aos senadores que, na conversa com Lula, apontou três responsáveis pelo esquema: o secretário municipal Klinger Luiz de Oliveira, o empresário Ronan Maria Pinto e o ex-segurança do prefeito petista Celso Daniel, Sérgio Gomes da Silva, conhecido por Sérgio Sombra. Neste momento do diálogo, de acordo com Mara, Lula se virou para três assessores e comentou: "Nossa, eu achei que o Sérgio Gomes já estava muito longe." Mara afirmou ter citado o assassinato de Celso Daniel, em janeiro de 2002, apenas uma vez durante a conversa, ao comentar que a extorsão cessara depois do crime.

Segundo ela, Lula prometeu o fim da retaliação que sua família sofria por ter denunciado o esquema ao Ministério Público, logo após a morte de Daniel: "E ocorreu justamente o contrário, Klinger soube, reclamou, e dias depois uma comissão de sindicância da prefeitura se instalou na empresa."

Mara disse que, após o encontro, um dos assessores do presidente, um "muito alto e de barba", pediu-lhe que ocultasse dos jornalistas o teor da conversa, mas ela não atendeu o pedido.

O encontrou com Lula - que durou 40 minutos - foi no apartamento do presidente em São Bernardo do Campo (SP), na presença da primeira-dama, Marisa Letícia.

Mara, que é tetraplégica (sofreu acidente de carro em 1992), disse ter sido recebida depois de estacionar sua cadeira de rodas diante do prédio e afirmar que não sairia de lá enquanto não conversasse com Lula. "Eu comecei a contar do pagamento da caixinha que meu pai era obrigado a fazer a cada dia 30", contou. "Falei da retaliação imposta à empresa desde que eu e minha irmã, Rosângela, denunciamos o fato ao Ministério Público."

Lula fez algumas perguntas, "como se estivesse ouvindo uma novidade". "Às vezes, ele mudava de assunto querendo falar da minha situação física e a toda hora pedia aos assessores que anotassem o que eu dizia."

O senador Tião Viana (PT-AC) saiu em defesa de Lula e disse que o presidente procurou o prefeito João Avamileno, que substituiu Daniel, e teria ouvido dele a informação de que a Polícia Federal estava investigando a denúncia. Mara afirmou não saber de nenhuma reação do presidente: "Quanto às retaliações, não houve mudanças, continuaram da mesma forma."

Para o senador José Jorge (PFL-PE), a atitude do presidente reforça as suspeitas de que ele faz parte da "operação abafa" para tentar impedir a apuração da morte de Celso Daniel e do esquema de abastecimento de dinheiro para o caixa 2 do PT em Santo André. "Lula deveria ter chamado o ministro da Justiça, pedir para a Polícia Federal fazer um relatório e encaminhá-lo ao Ministério Público."