Título: EUA executam o 1.000.º condenado
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2005, Internacional, p. A32

Protestos em várias cidades do país e diversas capitais do mundo marcaram a morte do prisioneiro, na Carolina do Norte

Kenneth Lee Boyd, de 57 anos, tornou-se ontem o 1.000º condenado à morte a ser executado nos EUA desde que a Suprema Corte restaurou a pena capital em 1976, revertendo decisão tomada três anos antes. Sentenciado em 1994 pelo assassinato da ex-mulher e do ex-sogro, Boyd foi morto por injeção num presídio em Raleigh, Carolina do Norte. Cerca de 150 opositores da pena de morte fizeram vigília do lado de fora da prisão. A cena repetiu-se em cerca de 300 cidades em todo o país. A 1.000ª execução causou uma avalanche de críticas em várias capitais do mundo. Em Bruxelas, a União Européia divulgou um comunicado condenando a prática como "cruel e desumana". Em Londres, Clive Stafford Smith, um veterano do movimento americano pela abolição da pena de morte, disse que "ela nos faz muito mais bárbaros". Embora não haja sinais de que a punição esteja prestes a ser banida nos 38 Estados americanos que a legalizaram nos últimos 29 anos, seu uso está em declínio desde 1999, quando 98 pessoas foram legalmente mortas.

Contando Boyd, os executados este ano somam 56.

Dos mil condenados mortos, 58% eram brancos, 34% eram negros e 6% eram hispânicos. Mas a disparidade nos casos que envolvem criminosos e vítimas de raças diferentes é apontada pelos críticos como exemplo do caráter discriminatório da aplicação da sentença.

Segundo dados do Centro de Informação sobre Pena de Morte, apenas 16 brancos condenados pela morte de vítimas negras foram executados. Isso se compara a 206 negros legalmente assassinados como punição pela morte de brancos. A reversão da pena de morte em 122 casos de condenados que foram posteriormente inocentados, graças ao uso de métodos de identificação genética de provas, reforçou também os argumentos dos que combatem a punição, que é praticada em menos de uma dúzia de países.

Entre os 3.382 sentenciados que estão atualmente no corredor da morte em várias prisões estaduais, 1.531 são brancos e 1.419 são negros. Um deles é Stanley Tookie Williams, de 51 anos. Sua execução está marcada para o dia 13. Fundador de uma das mais notórias gangues de criminosos juvenis de Los Angeles, os Crips, Williams foi condenado em 1981 pela morte de quatro pessoas, ocorrido dois anos antes. Ele sempre sustentou que é inocente. Provas contendo material genético que poderiam comprovar ou desmentir sua participação nos crimes foram destruídas. Na cadeia, Williams passou por uma profunda transformação. Presidiário exemplar, completou seus estudos, tornou-se um prolífico escritor de literatura infanto-juvenil e abraçou a causa da pacificação das lutas entre gangues de Los Angeles e de outras cidades. Seus defensores, incluindo vários artistas, o indicaram para o Prêmio Nobel, tanto de Literatura como o da Paz.