Título: Oposição acusada de armar atentado
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2005, Internacional, p. A22

Bomba foi encontrada em Caracas. Governo de Hugo Chávez diz que o objetivo era sabotar as eleições legislativas de amanhã

O vice-ministro da Segurança e da Cidadania, Jesús Villegas, acusou ontem a oposição de envolvimento numa tentativa de atentado a bomba em Caracas. O explosivo, encontrado numa ponte de acesso à Universidade Central da Venezuela, estava embalado num papel com a inscrição "Fora CNE", sigla do Conselho Nacional Eleitoral, responsável pela realização das eleições de amanhã para a Assembléia Nacional. "Provavelmente isso vem das mesmas pessoas que estão tentando sabotar o direito legítimo dos cidadãos de votar", especulou Villegas. Quatro dos principais partidos de oposição decidiram nos últimos dias boicotar as eleições, alegando que o sistema de votação eletrônica está sujeito a fraudes.

As forças de segurança, que já estão mobilizadas para a realização das eleições, anunciaram a detenção de 11 pessoas em Maracaibo, capital do Estado de Zulia, no noroeste do país, com 62 coquetéis molotov, explosivos proibidos, galões de gasolina e fitas com emblemas falsos das Forças Armadas. Não há informação sobre se os detidos pertencem a algum grupo político.

Apesar desses incidentes, o ministro da Defesa, almirante Orlando Maniglia, assegurou que a situação no país é de "absoluta calma" e a ordem estará garantida para a realização das eleições. Os 120 mil militares da ativa e da reserva foram mobilizados e manterão a segurança das 9.155 seções eleitorais em todo o país, de acordo com o ministro.

Maniglia desmentiu rumores de que haveria movimentações golpistas nos quartéis, fomentados pelo próprio presidente Hugo Chávez, que disse, na noite de quinta-feira, que tinha informes de inteligência sobre oposicionistas e empresários dos meios de comunicação que estavam telefonando para unidades militares e incitando oficiais a promover um golpe de Estado. Maniglia confirmou os telefonemas, mas descartou a possibilidade de golpe: "Não tem nada a ver."

O deputado William Lara, diretor de Organização do Movimento Quinta República (MVR), do governo, acusou o grupo Súmate de estar se preparando para sabotar a votação. Segundo Lara, o Súmate, um movimento pró-cidadania apartidário, estaria convocando seus ativistas para invadir os locais de apuração de votos e roubar os comprovantes de votação, fazendo com que a contagem manual não coincida com a eletrônica.