Título: CPI pode citar deputados do caso Banestado
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2005, Nacional, p. A18

Comissão dos Correios não sabe o que fazer com dez parlamentares associados a remessas ilegais pela conta Beacon Hill

A CPI dos Correios vive um dilema sobre o que fazer com nove deputados e um senador associados a remessas ilegais para o exterior pela conta Beacon Hill. As remessas foram feitas entre 1996 e 2002, usando doleiros, e somam mais de US$ 6,3 milhões, conforme relatório reservado do Instituto Nacional de Criminalística (INC), da Polícia Federal, ao qual o Estado teve acesso. A CPI não sabe se os parlamentares cometeram crime ou foram vítimas de irregularidades cometidas por bancos.

O relatório cita o senador Fernando Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e os deputados Vittorio Medioli (PV-MG), Itamar Serpa (PSDB-RJ), Álvaro Dias (PDT-RN), Pedro Irujo (sem partido-BA), João Lyra (PTB-AL), Francisco Garcia (PP-AM), Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Arolde de Oliveira (PFL-RJ) e Pauderney Avelino (PFL-AM). Medioli, Serpa e Flexa Ribeiro dizem que são grandes empresários e não entendem por que essas remessas - ínfimas para os valores que alegam movimentar - aparecem como ilegais. Eles atribuem a responsabilidade ao bancos com que trabalham.

Medioli teria remetido US$ 1,4 milhão, Serpa, de US$ 28,8 mil e Flexa Ribeiro, US$ 1,06 milhão. Outros, como Cunha (US$ 23 mil), afirmam que no período investigado tinham filhos no exterior e lhes enviavam dinheiro, mas desconhecem qualquer ilegalidade nas operações.

O relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), diz não ter meios de apurar o caso, para não perder o foco das investigações, centradas no esquema supostamente operado por Marcos Valério. Enviado pelo governo americano para auxiliar a CPI do Banestado, o banco de dados da Beacon Hill está com o INC há mais de um ano.

Essa CPI foi extinta no fim de 2004, sem ter resultados por causa da briga entre o presidente, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), e o relator, deputado José Mentor (PT-SP). A partir do depoimento do doleiro Antônio Claramunt, o Toninho da Barcelona, há três meses, os peritos da CPI dos Correios acabaram descobrindo a lista dos parlamentares.

O maior volume de remessas, US$ 2,8 milhões, foi de parentes de Pauderney, como os irmãos Pauderley e Paulo Ney. Apontado como beneficiário, ele nega. "É retaliação do PT e do estado policial montado para tentar silenciar oposicionistas como eu." O deputado disse que os irmãos são empresários com negócios no exterior.

Apesar de ser grande empresário, Irujo nega a remessa de US$ 26,8 mil, por meio do doleiro Luis Filipe Malhão, para o MTB Bank, passando pelo Citibank e o Privanza Bank, da Suíça. "Não conheço esse doleiro, não tenho conta nesses bancos e nunca enviei um centavo sequer para o exterior."

Dias (envio de US$ 25 mil) estava viajando e não foi localizado. A assessoria de João Lyra afirmou que a remessa atribuída a ele, US$ 85 mil, não é 10% do que movimenta por ano em importações e exportações. Garcia e Arolde de Oliveira também não foram encontrados.