Título: Tesoureiro oferece cargo a Dirceu e divide PT
Autor: Mariana Caetano, Clarissa Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2005, Nacional, p. A10

Pont acha oferta perigosa antes de apuração: "Aí volta o Delúbio?"

Aderindo à proposta de corrigir a "injustiça" cometida contra José Dirceu, o tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, colocou ontem seu posto na Executiva Nacional à disposição do ex-deputado. "Se ele quisesse, eu daria o cargo agora", anunciou. Antes dele, o terceiro vice-presidente do PT, Jilmar Tatto, havia acusado "corpo mole" de parte dos integrantes do partido e do governo na defesa do mandato de Dirceu e oferecido sua vaga ao ex-ministro. A proposta incendiou o debate, mas dividiu o partido. O PT divulgou nota de repúdio à cassação, tratada como "violência política", mas não falou nada sobre abrigar o companheiro. O secretário-geral, Raul Pont, é contra uma acolhida imediata. "Dirceu é simbólico no PT, tem capacidade política, sabe coordenar, articular, conhece o partido, a sociedade brasileira, os Estados e os prefeitos, conhece todo mundo. É um quadro que não podemos desperdiçar", afirmou Tatto. Para Ferreira, o partido deveria ter agido antes em defesa de Dirceu. Não o fez, segundo ele, por "impossibilidade política". "Hoje, com a nota, recuperamos uma opinião sobre o caráter da cassação, que foi eminentemente política", disse Paulo Ferreira.

Raul Pont, porém, afirmou que o PT não pode reincorporar Dirceu sem que antes ele se submeta à Comissão de Ética do partido, assim como os demais deputados ameaçados de cassação. "A perda política que o partido teve até agora nos obriga a isso", justificou. "Sem isso, vamos receber todos de braços abertos? Aí volta o Delúbio (Soares)?"

A moção de apoio a Dirceu "repudia veementemente a cassação pela Câmara de nosso companheiro José Dirceu", diz o texto. "Trata-se de um ato de violência política, através do qual uma eventual maioria parlamentar, sem prova material, em constante desrespeito dos direitos de defesa, impôs arbitrariamente dura sanção a um homem cuja trajetória se identifica com as grandes lutas do povo brasileiro pela democracia e justiça social."

Por 8 votos a 6, e uma abstenção, a Executiva aprovou o apoio do partido à manutenção da verticalização nas próximas eleições. A regra prevê que as alianças estaduais não podem contrariar alianças nacionais. O assunto deve ser levado a voto na terça-feira, na Câmara e o líder do PT, Henrique Fontana (RS), afirmou que a bancada vai lutar pela aprovação de outros itens da reforma política. Se mantida, a verticalização contraria interesses do presidente Lula, que terá mais dificuldade para montar uma aliança ampla.