Título: Para Malan austeridade acelera a queda do juro
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2005, Economia & Negócios, p. B8

A austeridade fiscal como compromisso de longo prazo é fundamental para redução dos juros e o crescimento da economia, asseguram economistas como o ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan; o ex-presidente do Banco Central (BC), Gustavo Franco e Márcio Garcia, da PUC Rio. Malan acha que será preciso tempo para entender os motivos da queda do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, mas defendeu ajustes na política monetária quando necessários, com garantia de metas de inflação de longo prazo.

O ex-ministro disse que só um compromisso de austeridade fiscal de longo prazo a ser estabelecido pelo governo vai garantir a redução mais rápida das taxas de juros nominais e reais. Evitou apontar os motivos da queda do PIB e concentrou as sugestões na questão fiscal. "As quedas nas taxas de juros nominais e reais podem ser menos gradualistas se o governo pôr, com apoio do Congresso, a idéia do compromisso fiscal necessário para os anos a frente." Para ele, o número do superávit primário não é tão relevante e sim o horizonte no tempo desse superávit e que "isso seja visto como crível".

Sobre a política monetária e metas de inflação, comentou que é a favor de metas estabelecidas em período de tempo superior a 12 meses. "O governo não precisa se sentir obrigado, a não ser no caso de um choque externo, a manter uma política extremamente restritiva para atingir a meta naquele ano."

Malan não quis avaliar se houve exagero na política monetária em 2005, mas reconheceu que "há uma trajetória de queda". O ex-ministro participou de um painel, em seminário no Rio, sobre as perspectivas de ações populistas na gestão da política econômica da América Latina. Alertou sobre os perigos de "milagres ou pirotecnias" na região. Em relação ao Brasil, não demonstrou preocupação e citou compromissos públicos do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de que não haverá mudança brusca na política econômica.

Garcia e Franco alertaram para o perigo de que a queda do Produto Interno Bruto eleve as vozes dos que defendem gastos maiores do governo. Para Franco, os dados da atividade vão acirrar o debate em torno da política monetária, o que considera "bom e saudável", mas perigoso ao "acionar os populistas de plantão, que esperam que os juros no Brasil sejam reduzidos com uma canetada".

Franco declarou compartilhar da visão de Palocci da necessidade de manter a atual política fiscal. Garcia alertou que o momento é para corte de gastos, e não de relaxamento fiscal. "O perigo é que a queda do PIB leve (o governo) para o lado do aumento dos gastos."