Título: Analistas já vêem PIB menor em 2006
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2005, Economia & Negócios, p. B8

Resultado do 3.º trimestre aciona rodada de revisão das estimativas para o ano que vem

O fraco resultado da economia no terceiro trimestre está provocando a revisão das previsões de crescimento do PIB também para 2006. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que projetava avanço de 4%, espera agora avanço na faixa entre 3% e 4%. Para o Instituto de Economia da UFRJ, a expansão poderá ser menor do que o estimado inicialmente. De outubro para novembro, o IE-UFRJ já havia diminuído a estimativa para o ano que vem de 4,5% para 4%, com a expectativa de desaceleração no terceiro trimestre. Com o dado oficial, a projeção caiu para uma faixa entre 3,7% e 4%, explica o responsável pela análise de conjuntura do IE, Caio Prates. Segundo ele, os 4%, agora, são "teto" do crescimento. "O ajuste foi feito pelo desempenho negativo no terceiro trimestre e efeitos estatísticos para o ano que vem."

Prates explicou que os ajustes de previsões refletem mais os últimos resultados divulgados do que o cenário traçado para frente. O crescimento abaixo do esperado reduz um efeito que os economistas chamam de "carry over", uma espécie de embalo estatístico que favorece o crescimento de um ano para o outro.

O diretor de Macroeconomia do Ipea, Paulo Mansur, confirma que o efeito vai ser menor. "Dadas as condições atuais, é difícil imaginar um crescimento acima de 4% ano que vem", afirmou. As projeções oficiais do Ipea serão divulgadas terça-feira. Para 2005, o Ipea estimava crescimento de 3,5%, que não será alcançado. Na semana que vem, a projeção para este ano deverá ser reduzida.

Apesar disso, Levy explica que há uma "visão positiva" com relação a 2006: o emprego está crescendo, a massa salarial está avançando e estes são fatores que "vão se traduzir em aumento de demanda". A questão-chave, explica Mansur, é o investimento, que reage em função das perspectivas de queda dos juros e em parte com a evolução da crise política.

O economista da UFRJ argumenta que todo o cenário base para o próximo ano leva em conta um recuo da taxa Selic para 15% no fim de 2006 e o fato de a inflação ficar bem comportada ao longo do ano, com desvalorização moderada. "A premissa básica é que haverá um bom espaço para redução dos juros", afirmou. Para ele, a queda no terceiro trimestre não reflete um efeito concentrado do juros altos, mas um ajuste com relação ao segundo trimestre.

"Me parece que um erro de avaliação foi não se perceber que o crescimento no segundo semestre, aquilo sim, foi um ponto fora da curva. O que ocorreu no terceiro foi uma correção", comentou Prates. Já o economista da Tendências Consultoria, Guilherme Maia, explica que a projeção de 3,4% para 2006 será mantida. Segundo ele, a agropecuária deverá se recuperar ano que vem, por fatores cíclicos.