Título: Lula: 'Não se preocupem com o PIB'
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

Um dia após reconhecer que não esperava um desempenho tão ruim da atividade econômica do País, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou ontem um discurso de otimismo ao afirmar que a queda de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre não é motivo para preocupação. "Não se preocupem porque, embora (a retração) tenha me deixado chateado, pois você sempre espera números positivos, os indicadores demonstram que a economia brasileira vai crescer de forma sólida em 2006", declarou o presidente na abertura do 7º Seminário "Brasil & Parceiros: Oportunidades de Negócios", em São Paulo, onde participaram investidores de 28 países.

Em seu discurso, Lula reafirmou que não vai mudar a política econômica, mesmo às vésperas de um ano eleitoral. E ainda cobrou a participação dos empresários no crescimento do País.

"Não haverá, em função do ano eleitoral, nenhuma tomada de posição do governo que possa colocar em perigo o que nós conseguimos criar nesses três anos de sustentabilidade e de perspectiva de o Brasil ser um País que tenha um crescimento de longo prazo", disse Lula.

O discurso otimista em relação à queda do PIB foi apoiado pela maioria dos investidores presentes. O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, por exemplo, classificou a retração como algo "conjuntural". "A tendência ainda é positiva e o Brasil cresce em exportação."

O presidente do grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, ressaltou a queda do risco Brasil como mostra de que "não há preocupação com os rumos da economia brasileira".

Lula ainda rebateu, indiretamente, críticas feitas à sua política de crescimento econômico. "Em economia, não existe mágica. Existe seriedade, transparência, passo do tamanho da nossa perna. Não adianta olhar para a China, para os Estados Unidos, para alguém que cresceu mais ou menos do que nós."

À tarde, quando o presidente participou da inauguração do pólo tecnológico TIM, em Santo André, o presidente voltou a adotar o discurso da calmaria. "Não é porque o PIB caiu que o País está doente. O Brasil nunca esteve tão saudável e com perspectivas de consolidar o crescimento."

ASSUNTO RESERVADO

Numa conversa fechada com o grupo de investidores, Lula ouviu críticas aos juros, à valorização do real e aos problemas de infra-estrutura. Porém, para os empresários, a queda na taxa de juros é necessária, mas não deve ocorrer repentinamente para que sejam evitados danos à economia. "As experiências internacionais mostram que mudanças nos juros não podem ser abruptas, sob o risco de perder o sacrifício já feito antes para controlar a inflação", disse Gerdau Johannpeter.