Título: PT admite hipótese de novos 'repasses estranhos'
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Nacional, p. A6

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, não descarta a hipótese de que surjam novos repasses "estranhos à contabilidade" do partido, a exemplo do depósito de R$ 1 milhão revelado em benefício da Coteminas. O episódio causou constrangimento a um dos mais fiéis aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente José Alencar, dono da empresa. "Da maneira como se agiu na direção do partido em certo período, não posso descartar outras surpresas", disse. "É tarefa dessa direção fazer um processo interno de esclarecimento dessa operação e de eventuais outras", reiterou o secretário de Finanças, Paulo Ferreira. Apesar da saia-justa de Alencar, pelo menos três dirigentes do partido afirmaram ontem acreditar que o depósito à Coteminas tenha sido revelado por iniciativa de dirigentes da própria empresa, como forma de pressionar pelo pagamento da dívida de R$ 12,2 milhões por conta da aquisição, em 2004, de 2,75 milhões de camisetas à campanha eleitoral. "Não há nenhuma informação no PT a esse respeito. Não sei por que esse assunto surgiu agora", afirmou Berzoini, negando o comentários dos colegas que preferiram não se identificar.

O balanço da direção é que o episódio envolvendo a Coteminas não deverá causar maiores estragos à imagem do partido. "Isso entra na conta do caixa 2, na conta do Delúbio, e o novo comando do PT não tem nada com isso", disse um dirigente.

BURACO

Motivo maior de preocupação na legenda hoje é sua sobrevivência. Os salários dos funcionários estão atrasados, bem como os repasses à Fundação Perseu Abramo. Além disso, o partido tem dívidas de mais de R$ 53 milhões e enfrenta cobranças na Justiça de vários credores. Nessa conta, estão de fora os supostos empréstimos que abasteceram o valerioduto. De acordo com Paulo Ferreira, se não recuperar a solvência em janeiro, o PT terá de passar por profunda reestruturação. Em novembro, 37 funcionários já foram demitidos, e outras várias medidas de economia foram adotadas.

Os débitos referentes ao fornecimento de software no processo de informatização do partido - R$ 719 mil - foram protestados pela License Company desde maio. Também a SMPB, uma das agências de Valério, cobra R$ 460 mil que devem ser executados nas próximas semanas. Outras instituições, a exemplo do BMG, foram à Justiça exigir pagamento.