Título: Delúbio recua e diz que caixa 2 pagou Coteminas
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Nacional, p. A6

Um dia depois de a direção do PT afirmar que não há registro de nenhum pagamento à Coteminas, o ex-tesoureiro Delúbio Soares mudou ontem sua versão e disse que se equivocou ao considerar o repasse como oficial. Em nota, disse que o dinheiro "tinha origem nos empréstimos feitos por Marcos Valério ao PT". E afirmou: "Trata-se de parte do valor que, daqueles empréstimos, foi reservado para despesas do Diretório Nacional do partido". Ou seja, trata-se de caixa 2.

A nova versão nasceu depois de o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirmar que o pagamento à Coteminas indica a existência de uma outra fonte que abasteceu o caixa 2 do PT, além dos empréstimos reconhecidos por Valério e Delúbio. Em 17 de maio deste ano a Coteminas recebeu R$ 1 milhão em dinheiro para quitar parte de uma dívida contraída pelo PT com a compra de camisetas em setembro e outubro de 2004. O problema é que o último depósito feito por Valério em benefício do partido foi feito em 1.º de outubro de 2004.

"Não faz sentido receber o dinheiro em outubro e só usá-lo sete meses depois. Acredito que a nota do ex-tesoureiro seja uma tentativa de mascarar esta outra fonte para o caixa 2 do PT", afirmou ontem Serraglio. "A CPI continua atrás desta ou de outras fontes", disse.

CONTRADIÇÕES

No sábado passado, por meio de seu advogado Arnaldo Malheiros Filho, Delúbio informou que o repasse à Coteminas fora contabilizado normalmente. Já no fim de semana, o secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira disse que não havia registro de tal pagamento. Ontem, Ferreira repetiu a informação, confirmando, também, que uma funcionária da tesouraria, Marice Corrêa de Lima, foi encarregada de "levar uma encomenda" à Coteminas.

"Ela cumpriu ordens e não tem nenhuma responsabilidade sobre os fatos", ressalvou. "Esse episódio se circunscreve nas operações informais que a antiga direção fazia e demonstra a informalidade que vigorava no comando do partido."

De acordo com a assessora de Imprensa de Valério, o total sacado diretamente pelo PT é de R$ 4,932 milhões. "Se Delúbio guardou o dinheiro para usar depois (de outubro, data do último repasse), Marcos Valério não tem conhecimento", informou Cláudia Leal.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, repetiu ontem que o partido não tem como lidar com dados não contabilizados oficialmente. Não deixou claro, porém, se pretende descontar o R$ 1 milhão já entregue à Coteminas do total que o PT ainda deve à empresa. "Isso cabe à própria Coteminas", disse.

"Esse dinheiro não veio do Valério, veio de alguma empresa que doou por fora", afirmou um integrante do Diretório Nacional do PT que não quer ser identificado. Questionado sobre as contradições apontadas por Serraglio e a hipótese de haver outra fonte para o caixa 2, Malheiros Filho disse que Delúbio não tinha nenhuma informação a acrescentar à nota.