Título: Petista diz ter recebido R$ 100 mil
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Nacional, p. A7

O deputado Josias Gomes (PT-BA) contou em depoimento no Conselho de Ética da Câmara que recebeu R$ 50 mil das mãos do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, em 2003, para pagar dívidas de campanha de petistas derrotados nas eleições de 2002 no Estado. E que ainda pegou no Banco Rural outros R$ 50 mil também para quitar as despesas dos candidatos. Os números apresentados pelo deputado são contraditórios com dados enviados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. O depoimento não convenceu o relator Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP). "Não se questiona que o dinheiro foi recebido, mas apenas o valor total, e não se discute a presença dele no banco. Não há muito o que questionar. É um dos casos em que há provas materiais", afirmou o relator após o depoimento de Gomes.

Thame afirmou que a situação do deputado é delicada. "Não é caso de mensalão, porque ele não recebeu dinheiro para votar com o partido nem de enriquecimento ilícito. O que modifica é a tipificação da irregularidade. É utilização política dos recursos sem origem, de caixa 2, para pessoas ligadas a ele, que fizeram dobradinha com ele (nas eleições)."

No depoimento, Josias Gomes reconheceu ter recebido R$ 100 mil em dinheiro que, segundo ele, foram repassados para três candidatos a deputado estadual derrotados nas eleições de 2002. "Como poderia imaginar que ali estivesse sendo operado o esquema que saiu na imprensa? Involuntariamente fui envolvido em algo que não sabia", alegou Gomes. O deputado afirmou que, para ele, os R$ 100 mil foram recebidos do PT. "Jamais ouvira falar em Marcos Valério."

O depoimento levantou dúvidas. Documentos da CPI dos Correios nas mãos do relator mostram dois recibos com a conta bancária era da SMPB, empresa do empresário Marcos Valério, cada um de R$ 50 mil, assinados por Gomes. O deputado não reconhece as assinaturas e um exame grafotécnico será feito para comprovar se são realmente dele.

PRAZO: O Conselho de Ética da Camara aprovou ontem pedido de prorrogação, por 90 dias, do prazo para conclusão dos processos disciplinares de 12 deputados. A decisão cabe ao plenário da Câmara.

O presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), afirmou que se trata de um pedido preventivo. E informou, também, que o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), está analisando duas possibilidades para funcionamento do Conselho de Ética durante o recesso parlamentar: a convocação extraordinária da Câmara ou uma mudança no regimento interno da Casa.