Título: PIB só vai crescer 2,3%, prevê Ipea
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Economia & Negócios, p. B1

O baixo crescimento esperado para os investimentos este ano foi um dos principais motivos que levaram o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a rebaixar de 3,5% para 2,3% a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005. No lugar de avançar 5,3%, como esperado anteriormente, os investimentos crescerão só 0,9%. Assim, a taxa de investimento sobre o PIB cairá de 19,6% em 2004 para 19,4% este ano - uma taxa na casa dos 20%% ficou para o ano que vem. As novas projeções do Ipea, que incluem uma revisão de 4% para 3,4% na expansão da economia em 2006, foram divulgadas ontem. De forma geral, além dos juros altos, os economistas indicam que houve um efeito da crise política. "Isso compõe um quadro que não é favorável à tomada de decisões", diz o coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC) do Ipea, Fábio Giambiagi.

"A queda dos investimentos (no terceiro trimestre, de -0,9%) reflete uma piora da percepção dos empresários em relação ao plano de investimentos, que leva ao adiamento, mas não necessariamente ao engavetamento, dos projetos", afirma o boletim do Ipea. A construção civil, que compõe os investimentos, também não decolou. Para 2006, o Ipea projeta alta de 7% para os investimentos e uma taxa sobre o PIB de 20,3% (sem variação de preços).

Em 2004, os investimentos contribuíram com 1,9 ponto porcentual para o crescimento total de 4,9% da economia - este ano a parcela será de 0,2 ponto para a estimativa de 2,3% de expansão do PIB. O diretor de macroeconomia do Ipea, Paulo Levy, disse que, além da política monetária e dos investimentos, um forte ajuste dos estoques no terceiro trimestre e o recuo na agropecuária prejudicaram o crescimento.

No caso dos juros, o Ipea não levava em conta que ainda subiriam no primeiro semestre e ficariam elevados. Indagado se o Banco Central errou nos juros, Levy limitou-se a comentar que o banco tem de controlar a inflação. "Me parece que ele cumpriu seu trabalho. O custo podia ser menor? Esse é um debate que vale a pena ser feito. Não tenho condições de responder. A forma em que o debate está sendo travado não leva em conta essa questão: o objetivo de cumprir a meta fixada pelo governo". Levy defendeu o debate também sobre a qualidade do ajuste fiscal.

Giambiagi lembrou que a meta da inflação para 2005 foi definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em 2003. O conselho era formado pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, e os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Guido Mantega, que hoje preside o BNDES e é um dos principais críticos dos juros.

Após cair 1,2% no terceiro trimestre, o PIB poderá crescer 1,4%, segundo o Ipea. Isso seria possível porque, depois da redução de estoques, o comércio terá de voltar a fazer pedidos à indústria, efeitos positivos da queda de juros poderão ser captados e a crise política deverá diminuir.