Título: Lula acena com ajustes na política econômica
Autor: Tânia Monteiro e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Economia & Negócios, p. B3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou ontem que seu governo fará reparos na política econômica para enfrentar a queda de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Indagado pelo pelo Estado se haverá ajustes, Lula respondeu afirmativamente. "Vai, vai. Tudo vai acontecer", comentou o presidente, logo após participar de solenidade no Palácio do Planalto para entrega de prêmios a empresas que se destacaram na área de ciência e tecnologia. Lula ficou em silêncio, porém, quando indagado sobre a extensão do ajuste e o prazo para sua aplicação. À noite, a assessoria de imprensa do Planalto informou que o presidente quis dizer o seguinte: a economia vai se ajustar no quarto trimestre e voltar a crescer.

Na prática, Lula já pediu ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e ao presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, que lhe apresentem "cenários alternativos" para controlar a inflação sem aumentar os juros. Em conversas reservadas, interlocutores palacianos contam que Lula continua muito contrariado com o resultado do PIB e, principalmente, com o fato de não ter sido avisado antes sobre o tamanho da queda no terceiro trimestre, de 1,2% e não de 0,5%, como esperado.

No Planalto, auxiliares do presidente dizem que, a partir de agora, haverá "liberdade vigiada" para o BC. Lula avalia que, até abril de 2006, um ano eleitoral, a taxa de juros real (descontada a inflação) deve ficar próxima de 9% . Para tanto, precisa cair seguidamente, no máximo a partir de janeiro.

A equipe econômica já cedeu no ajuste fiscal. Por ordem de Lula, a Fazenda foi obrigada a liberar R$ 2,55 bilhões para investimentos e emendas parlamentares, na última segunda-feira. Ao mesmo tempo, porém, o time de Palocci deixou claro que não aceita afrouxar a política monetária. Não foi à toa que Meirelles fez ontem uma defesa veemente do BC e da política de juros para debelar a inflação.

O problema é que Lula quer que o juro caia mais rapidamente. "O presidente não dará um cavalo-de-pau na economia, mas cada vez mais vai constatar que está na hora de acelerar não só a execução orçamentária como a queda dos juros", contou um ministro.

"A queda do PIB nesse patamar foi uma surpresa e tanto. Agora, mesmo que no quarto trimestre haja um resultado positivo, o crescimento ficará muito menor que o esperado num ano pré-eleitoral", acrescentou.

Na noite de ontem, Lula convocou os ministros Palocci, Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Jaques Wagner (Relações Institucionais) para uma conversa de última hora em seu gabinete, provocando o cancelamento de uma reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex).

Oficialmente, o encontro foi para discutir temas bilaterais entre Brasil e Paraguai.Mas Lula está preocupado com a retração da economia e pede medidas. Sua intenção é apontar um novo caminho já na reunião ministerial, marcada para o próximo dia 19.