Título: Real em alta já causa demissões
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Economia & Negócios, p. B4

O dólar cada vez mais baixo está fazendo vítimas entre os exportadores brasileiros. Fabricantes de móveis e calçados, diretamente afetados pela concorrência da China, estão fechando unidades, demitindo funcionários ou revendo planos de investimentos. No Rio Grande do Sul, já foram fechadas 30 fábricas de calçados voltadas essencialmente para exportação. A unidade da Azaléia em São Sebastião do Caí, a 59 quilômetros de Porto Alegre, foi desativada, com demissão de 800 pessoas. A explicação oficial para o fechamento da fábrica dada em comunicado distribuído pela empresa, é de que "a profunda crise nas exportações de calçados brasileiros deixou a Azaléia sem outra alternativa, depois de 18 meses de tentativas e prejuízos, que não a de encerrar as atividades de sua unidade". Fontes do setor dão como certo o fechamento de mais duas fábricas de calçados ainda nesta semana.

Estima-se que as indústrias de calçados tenham demitido 15 mil pessoas desde o início do ano. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a exportação brasileira de calçados vai cair 10% em 2005, em relação ao ano passado, em número de pares.

O setor de móveis ainda não está encolhendo, mas muitos empresários já entraram no prejuízo e se preparam para fazer cortes. A Artefama, maior exportadora de móveis do País, exportou US$ 30 milhões e teve margem de lucro de 10% no ano passado. Neste ano, terá exportação de R$ 39 milhões, mas com prejuízo. Segundo Álvaro Vaz, presidente da Artefama, a empresa passou a importar insumos - antes , comprava madeiras e ferragens no Brasil. Agora, importa da Argentina e Chile. De acordo com Domingos Rigoni, presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimovel), a exportação de móveis cresceu 42% de 2003 para 2004, deve ter 5% ou zero de crescimento neste ano e cair no ano que vem.

A Bunge Fertilizantes vai encerrar a produção de sete de suas 35 fábricas. A redução da capacidade instalada da Bunge acompanha a queda das vendas de fertilizantes, que este ano fechará em 19,5 milhões de toneladas, ante 22,8 milhões de toneladas em 2004. O dólar baixo prejudicou a lucratividade do agronegócio.