Título: Nem ajuda do Banco Central faz dólar subir
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Economia & Negócios, p. B4

O Banco Central (BC) bem que tentou, mas não conseguiu conter a valorização do real em relação ao dólar, num dia marcado por recordes. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou na maior pontuação da história, atingindo 33.223 pontos, e o risco país, que mede a confiança do investidor estrangeiro, despencou para 316 pontos, queda de 2,17% em relação ao dia anterior. Nesse cenário favorável, o dólar não se sustentou e voltou a cair, apesar das compras do BC no mercado. Depois de abrir na máxima de R$ 2,20, a moeda americana cedeu à pressão de ingresso de capital estrangeiro no País e fechou em queda de 0,87%, a R$ 2,177. Com isso, aproximou-se da menor cotação em mais de quatro anos e meio, de R$ 2,155, em 12 de abril de 2001. Só neste início de mês, o dólar teve uma desvalorização de 7,06%.

A tendência, se o BC não agir de forma mais agressiva, é continuar em queda, afirma o economista da GAP Asset Management, Alexandre Maia. Segundo ele, está havendo um ataque especulativo no Brasil, com investidores estrangeiros comprando real e vendendo dólar. "Isso é resultado da combinação de juros reais altos e saldo de conta corrente elevado."

O economista explica que, além das operações feitas pelos estrangeiros no mercado de derivativos, os bons resultados da balança comercial também elevam o fluxo de dólar e pressiona o câmbio. "O BC terá de fazer mais leilões se quiser conter a valorização do real, que já chega a 16,18% no ano."

Ele afirma que o contexto externo tem se mostrado muito mais importante do que as notícias domésticas. O economista referiu-se à queda de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, divulgado semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com a crise política, os números do mercado não se deterioraram.

A explicação está na elevada liquidez do mercado internacional. Com juros de Europa e Estados Unidos nos menores níveis da história, os investidores vão em busca de melhores rentabilidades. Nesse cenário, os países emergentes aparecem como os principais destinos dos investimentos dos estrangeiros. Ontem, por exemplo, o Deutsche Bank recomendou a seus clientes a exposição aos papéis brasileiros, especialmente aqueles atrelados aos juros domésticos.

Para o economista da MCM Consultores, Antonio Madeira, o Banco Central teria de surpreender o mercado financeiro com uma aceleração da queda dos juros. "Somente desta forma ele vai abrir a possibilidade de conter o câmbio."

Na avaliação de Madeira, o comportamento de ontem do mercado financeiro reflete o quadro externo favorável. Além disso, apesar da queda do PIB no terceiro trimestre, o mercado espera uma reação no último trimestre. Isso tudo atrai o capital externo, completa o economista.

O Banco Central anunciou ontem no fim da tarde que fará hoje o terceiro leilão de swap reverso (mecanismo de intervenção no mercado de câmbio). A decisão poderá fazer com que o dólar abra em alta.