Título: Um ano de recorde para montadoras
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Economia & Negócios, p. B6

A indústria automobilística vai encerrar 2005 com produção recorde de 2,44 milhões de veículos, 10,4% a mais na comparação com o ano passado. Para o próximo ano a perspectiva é de desaceleração, com crescimento moderado de 4,5%. Ainda assim, se a projeção for confirmada, o setor atingirá nova marca histórica, chegando a 2,55 milhões de unidades produzidas. O mercado interno, que este ano crescerá 7,7%, totalizando 1,7 milhão de veículos, vai manter o ritmo, com novo aumento de 7,1% em 2006 - para 1,82 milhão de unidades. Já as exportações, carro-chefe do desempenho atual, com incremento de 33,6% ante 2004, terá aumento bem menor, não chegando a 3% no próximo ano. Em valores, passará dos US$ 11,2 bilhões deste ano, outro recorde da indústria, para US$ 11,5 bilhões. O desempenho das vendas teve importante alavancagem em novembro, o melhor mês do Promoções com crédito facilitado garantem vendas de automóveis ano, com 158,4 mil carros vendidos, número que deve ser superado este mês, quando as montadoras esperam vender 170 mil veículos. Com esses resultados, o setor consolidará seu melhor trimestre do ano, com vendas de 466,1 mil unidades. O resultado deve contribuir na melhora do Produto Interno Bruto (PIB), depois da queda verificada no terceiro trimestre. 'A indústria automobilística será uma das responsáveis pela recuperação da economia no quarto trimestre', disse o economista Afonso Celso Pastore. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, disse que as promoções realizadas pelas montadoras, principalmente em relação ao crédito facilitado, sustentam as vendas de automóveis e comerciais leves. O lançamento da tecnologia flex, que permite abastecimento com álcool ou gasolina também impulsionou o mercado. Carros bicombustíveis respondem hoje por 70% das vendas. EXPORTAÇÕES Embora tenham passado boa parte do ano reclamando da taxa cambial, as montadoras vão exportar US$ 11,2 bilhões, ante uma projeção no início do ano de US$ 8,6 bilhões. O setor foi beneficiado pela demanda mundial, explicou Pastore, e pela competitividade do produto brasileiro, acrescentou Golfarb. O executivo reforçou, entretanto, que a projeção de exportar US$ 11,5 bilhões em 2006 corre riscos pois muitas empresas perderam contratos externos. O que deve garantir o resultado é a mudança no mix de produtos. 'Vamos exportar menos automóveis e mais caminhões.' Segundo ele, a venda de um caminhão equivale a de cinco ou seis carros. Outra preocupação do setor em relação ao mercado externo é o acordo automotivo com a Argentina. As negociações estão num impasse. O governo argentino quer prorrogar o prazo para o livre comércio, antes previsto para 2006, além de obter garantias de exportar mais veículos para o Brasil. Amanhã, representantes dos dois países se reúnem no Uruguai e o mais provável é que se estabeleça um acordo-ponte, mantendo as regras atuais até que se chegue a um acordo mais duradouro. Após dois anos de crescimento mensal no número de empregados, com alguns períodos de estagnação, as montadoras reduziram o quadro de pessoal pela primeira vez em novembro. Foram cortados 463 postos, dos quais 312 nas montadoras de automóveis e 151 nas fábricas de tratores. Segundo Golfarb, a maioria era de contratos temporários não renovados. Algumas empresas, como a General Motors, abriram programas de demissão voluntária. No acumulado do ano, as fabricantes contrataram 17.032 trabalhadores e encerram o período com quadro de 107 mil funcionários, o maior dos últimos oito anos. As vendas de máquinas agrícolas vão somar 23,2 mil unidades, queda de 38,6% em relação a 2004. É o pior resultado do segmento desde 1997, quando foram vendidos 21 mil equipamentos. Para 2006, a indústria prevê recuperação de 16,4% nas vendas, que devem ficar próximas de 27 mil unidades.