Título: Brasil quer prazo para 'Hong Kong 2'
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Economia & Negócios, p. B10

O Brasil quer um acordo sobre o ritmo dos cortes de tarifas e subsídios agrícolas até abril de 2006. O entendimento deveria ser fechado na conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio que ocorre em Hong Kong a partir da próxima semana. Mas sem um entendimento entre os países e diante da falta de ofertas mais ambiciosas por parte da Europa, ficou estabelecido que o restante das decisões ficará para o próximo ano, numa espécie de "Hong Kong 2". Para o Brasil, esse novo prazo não pode passar de abril e essa proposta será levada pelo Itamaraty à reunião. " Temos de ter um cronograma de trabalho para o período pós-Hong Kong ", afirmou o embaixador do País em Genebra, Clodoaldo Hugueney. Os demais países ainda não indicaram se estão de acordo com a nova data proposta pelo Brasil. "Saímos na frente e já colocamos o prazo que acreditamos que seja razoável ", disse Hugueney, afirmando que a nova data já foi aprovada pelo G-20, grupo de países emergentes.

Com o acordo sobre como ocorreriam os cortes de tarifas e de subsídios, a OMC então passará ao estágio final das negociações. Para isso, terá até o final de 2006. Sem entrar num acordo sobre como devem ocorrer os cortes de tarifas para produtos agrícolas, a Europa quer concentrar os debates em Hong Kong nos produtos considerados sensíveis, entre eles o açúcar e as carnes. Os europeus já indicaram aos demais países que vão pressionar por um entendimento sobre como esses produtos devem ser tratados e a quantidade de cotas que devem ser dadas para os emergentes.

Para a União Européia, cerca de 200 itens em sua pauta de importação precisam manter certas barreiras extras. O Brasil, porém, rejeita a estratégia européia. Segundo Hugueney, o Itamaraty não aceitará tratar dos produtos agrícolas considerados sensíveis antes de saber o que ocorrerá com a fórmula que regulará como ocorrerão os cortes das tarifas para todos os produtos. "Isso não podemos negociar dessa forma", afirmou.

O Brasil defende que apenas 1% das linhas tarifárias de um país seja considerada produtos sensíveis. Na prática, isso significaria que entre 18 e 20 produtos receberiam tarifas mais elevadas.

Já os europeus se negam a negociar com base no consumo interno de cada produto. Bruxelas insiste em que a base para o debate precisa ser as atuais cotas que os países ricos estabelecem sobre os países emergentes.