Título: Empresas investem na cultura como arma de inclusão social
Autor: Marina Faleiros
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/12/2005, Economia & Negócios, p. B20

O sinal toca, as luzes se apagam. No palco, 41 jovens da periferia de São Paulo apresentam Milágrimas, segundo espetáculo montado pelo projeto Dança Comunidade, resultado de uma parceria entre o famoso coreógrafo Ivaldo Bertazzo e o Sesc-SP. "A proposta é fazer da cultura um instrumento de transformação social desses jovens, que depois vão repassar para suas comunidades o que aprenderam conosco", explica Danilo Miranda, diretor do Sesc-SP. O show, numa mistura de ritmos africanos e música popular brasileira, encanta o público que confere, no Sesc Pinheiros, em São Paulo, o resultado de um ano de ensaios rígidos e uma rotina que envolve mais do que dança, mas a formação de cidadãos. "O espetáculo em si serve para chamar a atenção das pessoas e empresas sobre o projeto todo, que também conta com a preparação desses jovens para um emprego futuro, para terem visão crítica do mundo e se articularem bem", conta Bertazzo.

Este ano, o Dança Comunidade também recebeu o patrocínio da Bombril, Petrobrás e BNDES, o que, como explica o coreógrafo, torna possível o alto padrão de aprendizado a que os jovens estão sujeitos. "Precisamos de uma sala ampla e limpa, para que eles saiam da poluição visual a que estão acostumados, além de conforto no transporte para os ensaios, já que a maioria mora muito longe do centro, além de reforço escolar e apoio médico para todos."

Tanta dedicação deu retorno, uma vez que o Dança Comunidade já foi convidado para mostrar seu trabalho em outros países, como França e Holanda, e o espetáculo atual entrou no circuito cultural de São Paulo. "Mas esta é uma escola de vida, não de dança, pois estamos passando para eles o máximo de informações artísticas possíveis, acompanhadas do lado da escrita e reflexão, para que eles desenvolvam seus potenciais", diz Miranda.

A seleção dos participantes, explica o diretor, foi feita a partir de ONGs que atuam na periferia de São Paulo, que indicaram jovens já predispostos a continuarem o trabalho social. "A intenção é que eles se tornem agora professores ou instrutores nas suas comunidades, pois a dança tem o caráter muito interessante de incluir e promover a educação, se for tratada com essa seriedade."

Isso tanto é possível que Bertazzo, inclusive, comemora a entrada de três dos seus alunos na universidade. "Eles se desenvolveram e receberam também reforço escolar, e agora podem dar continuidade às carreiras que escolheram."

SEM ENXERGAR

A confecção Equus Jeans é outra que optou pelo lado artístico em seus investimentos sociais. A empresa começou, há dois meses, a reverter R$ 1 para cada peça vendida em suas 35 lojas espalhadas pelo País para a Associação de Balé e Artes para Cegos, dentro de uma coleção especialmente selecionada.

A associação forma bailarinas profissionais com deficiência visual, em uma jornada que já dura nove anos. "Quando comecei, todos diziam que era impossível um cego aprender balé, pois precisaria ver para imitar os movimentos. Hoje já tenho uma aluna que não enxerga e que consegue dar aulas para crianças que enxergam", conta Fernanda Bianchini, presidente da instituição.

Outras empresas também apóiam o trabalho, como a TGA Consultoria, Neo Energia e a Vivo. "Já temos 40 alunos e temos vagas em aberto. Nenhum aluno paga nada para participar."

Do lado da Equus, Priscilla Tesser, diretora de marketing, diz que o apoio deve ser ampliado, já que ajuda na formação de novas profissionais e também inclui as deficientes visuais na sociedade. "É importante para as companhias reverterem parte dos seus ganhos de forma estruturada e contínua em projetos como este."